21 dezembro 2007



BOAS FESTAS!



DESEJAMOS A TODOS OS NOSSOS LEITORES UM ÓPTIMO NATAL E UM ANO NOVO PLENO DE SAÚDE, PAZ E ALEGRIA!



19 dezembro 2007

ENIGMA



Ora, aqui está uma mensagem misteriosa, que li num muro de tijolo...

Se não estou enganada, é um bom conselho, ainda que mal redigido (porventura escrito à pressa...).

O que acham?

17 dezembro 2007

Tradução de sons?

Há uma aparente incongruência nas onomatopeias: se são palavras que procuram reproduzir os sons que representam, como se justifica que sejam tão diferentes de língua para língua? Será que um inglês ouve o ladrar do cão de maneira diferente de um português?

Tudo indica que sim. É certo que o mugido das vacas soa mais ou menos ao mesmo em todo o lado. A divergência na sua representação escrita é mínima: de mu (italiano) para meu (francês), passando por muhh (alemão), não há nada que nos espante.

Mas como se explica que as rãs façam croac em Portugal e brekeke na Hungria, que o oinc-oinc dos porcos seja gmy na Catalunha, que o cacarejar das galinhas seja cró-cró para os portugueses e kut-kudaj para os russos? Sabem como relincha um cavalo inglês? Neeeigh! Francamente!

Torna-se óbvio que, ou os animais de países diferentes não conseguem comunicar quando se vêem, ou as línguas que falamos condicionam a nossa capacidade de ouvir.

Nota: a Wikipédia tem uma lista de onomatopeias em diversas línguas, de onde retirei alguns exemplos.

14 dezembro 2007

Há cerca de / acerca de

Estas expressões são claramente homófonas, ou seja, têm o mesmo som, mas grafia diferente.
Comecemos pela que origina mais erros ortográficos: acerca de. É muito frequente vermos um acento grave na primeira vogal desta palavra: * àcerca de. Apesar de se pronunciar /á/, não se escreve com qualquer acento.
Esta palavra significa “sobre, a respeito de”, por exemplo:

(1) Preciso de falar contigo acerca de um assunto.

A expressão há cerca de pode exibir dois significados: um relativo a tempo e outro relativo a espaço.
Quando significa tempo, pode ser parafraseada por “faz aproximadamente”:

(2) Não os vejo há cerca de dois anos. (faz aproximadamente dois anos)

Quando significa espaço, pode ser parafraseada por “existem aproximadamente”:

(3) Nesta gaveta, há cerca de trinta revistas antigas. (existem aproximadamente trinta revistas).

12 dezembro 2007

"Como deve de ser" ou "como deve ser"?


Há muita gente a dizer "deve de ser" e "deve de fazer", mas a verdade é que não estão a falar como deve ser...
A razão é simples: o verbo dever não rege a preposição de. Assim como são incorrectas as frases *«Ele deve de vir mais tarde» e «Devem de ser duas horas» (em que o verbo dever exprime probabilidade e, talvez por isso, não dê tanto azo a confusões), também é errada a expressão *“como deve de ser”.
 Talvez a tendência para esta regência do verbo dever aconteça por influência do castelhano, pois nessa língua tal construção existe e é correcta. Por outro lado, pode haver uma analogia com construções em português que veiculam o mesmo tipo de conteúdo: *“deve de ser” e *“deve de fazer” têm um sentido de obrigatoriedade semelhante a “tem de ser” e “tem de fazer” e, com o verbo ter, o uso da preposição de é legítimo.
 Por enquanto, porém, a expressão “deve de ser” não se recomenda, no uso da língua portuguesa. No entanto, talvez venha a vingar, nunca se sabe... até porque é empregada por escritores como José Saramago, porventura para dar mais vivacidade ao discurso de pendor oralizante.
 

10 dezembro 2007

«Em rigor» ou «a rigor»?


Eis duas expressões muito parecidas, mas que, pelo menos em português europeu, têm sentidos diversos:

A locução em rigor pode ser interpretada literalmente, pois costuma preceder explicações ou exposições de ideias que se pretendem exactas. Pode ser, portanto, substituída pelo advérbio rigorosamente: por exemplo, na frase: «Em rigor, deveríamos dizer “o afluxo de pessoas”, em vez de “o fluxo de pessoas.”»

A expressão a rigor não deve ser usada como sinónimo da anterior, pois o seu significado já tem um cariz mais idiomático. Usa-se, sobretudo, a propósito de indumentária e significa de acordo com as exigências da ocasião. Assim, se vamos vestidos a rigor para uma festa, tanto podemos ir mascarados de vampiros (se for um baile de máscaras), de fato escuro e gravata ou vestido comprido e saltos altos (se for um jantar de gala), como, até, de pijama!


07 dezembro 2007

Desafio sintáctico

Apenas uma das seguintes frases está correcta. Qual é?
E, já agora, atrevem-se a corrigir as que apresentam incorrecções sintácticas?

1. A Inês perguntou ao namorado onde é que ele foi depois de a deixar em casa.

2. Apesar do jornalista ter exibido o seu cartão, o polícia não o deixou entrar.

3. A falta de pontualidade foi talvez um dos motivos que mais contribuiu para o seu despedimento.

4. Um dos requisitos desse emprego é conseguir trabalhar sobre pressão.

5. As entrevistas dos jornalistas deverão ser o mais breves possível.

05 dezembro 2007

TER MATADO, TER ACEITADO

Todos os dias, na comunicação social, ouço os jornalistas dizerem "ter morto" ou "ter aceite".

Alguém explica a estes senhores que com o auxiliar TER se usam as formas participiais regulares (terminadas em -ado e -ido) dos verbos que têm duplo particípio passado?

Quando é que eles passarão a dizer TER MATADO e TER ACEITADO? Quando a hipercorrecção tiver vingado e o que está hoje errado se tornar correcto?!

03 dezembro 2007

desafio


Quantas correcções fariam a este aviso?

30 novembro 2007

Você quem é?!

Na publicidade e nos programas de rádio, todos nós somos “você”. Você sabe, você escolhe, você para cá, você para lá.

Porém, apesar de se ter generalizado, essa forma de tratamento gera reacções, no mínimo, controversas. Por uns é considerada uma forma respeitosa, já que é proveniente de vossa mercê, depois contraída na versão vocemessê e, posteriormente, abreviada para você. Por outros é mal aceite, sendo encarada como uma falta de respeito para com a pessoa desconhecida que se pretende interpelar. Para esses, você implica demasiada confiança e deveria ser substituído por “o senhor” ou “a senhora”.

Seja como for, a verdade é que esta forma de tratamento gera algumas dificuldades aos falantes de língua portuguesa. Para começar, nem sequer é uma das seis pessoas que podem ditar a flexão dos verbos (eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles).

A sua utilização obriga a uma combinação estranha entre tu, vós - porque vocês, tal como tu e vós, corresponde à pessoa a quem se fala - e ele/ela(s) - porque a flexão dos verbos, quando a pessoa é você(s), se faz de acordo com a terceira pessoa. Assim, dizemos “você está óptimo” e “vocês sabem muito”, e não *“você estás óptimo”, nem *“vocês sabeis muito”. Aliás, talvez tenha sido precisamente por causa da formalidade (e da dificuldade) das flexões da pessoa vós (estais, estiverdes, estivestes...) que se generalizou o uso, bem mais simples, de você (está, estiver, esteve), quando não queremos ou podemos tratar o nosso interlocutor por tu.

No entanto, você (pronome tónico) também não é assim tão fácil, sobretudo no que toca à pronominalização dos verbos – isto é, quando implica escolher o respectivo pronome átono. Por exemplo, muita gente hesita entre dizer “vou contar-vos uma história, se vocês se calarem” ou “vou contar-lhes uma história”.

Já agora... o que é que VOCÊS diriam?! (Perdoem-me a confiança!...)

28 novembro 2007

A vírgula e a sintaxe – amigas inseparáveis

Sabiam que as vírgulas podem alterar a sintaxe de uma frase?

Observem os exemplos seguintes, que diferem apenas na presença/ausência de vírgulas:

(1) O irmão da Ana que mora em Paris não vem ao casamento.
(2) O irmão da Ana, que mora em Paris, não vem ao casamento.

Pois bem, a presença ou ausência de vírgulas dá origem a orações diferentes.
No exemplo (1), a oração “que mora em Paris” é uma relativa restritiva, que restringe o âmbito do nome “irmão”, ou seja, indica-nos que só o irmão que mora em Paris é que não vem ao casamento (e dá-nos a ideia de que a Ana tem mais irmãos para além desse).
Se omitíssemos a oração relativa “que mora em Paris”, o sentido da frase seria alterado:
“O irmão da Ana não vem ao casamento” (esta frase tem um significado diferente de “o irmão da Ana que mora em Paris não vem ao casamento").

Na frase (2), “que mora em Paris” é uma oração relativa explicativa, a qual nos dá apenas uma informação adicional, acessória, pelo que a sua omissão não altera o sentido global da frase: o irmão da Ana não vem ao casamento (ela só tem um irmão).

E termino com um desafio: por que razão os exemplos (3) e (4), SEM VÍRGULAS, são agramaticais (i.e. incorrectos do ponto de vista sintáctico-semântico)?

(3) * Os linces que são mamíferos estão em vias de extinção.
(4) * Steven Spielberg que realizou o “Parque Jurássico” ganhou celebridade mundial.

26 novembro 2007

Recandidatar e conflituar

Ouvimos falar, quase todos os dias, de pessoas que se recandidatam a cargos e de coisas, entidades ou até pessoas que conflituam ou são conflituantes – isto é, que provocam ou envolvem conflitos. Contudo, os verbos conflituar e recandidatar não constam dos dicionários mais à mão (ou melhor, mais ao dedo!), como o Priberam (Texto Editora) e a Infopédia (Porto Editora).

Porque será? Por lapso? Por se estar a aguardar mais um tempo, para se ter a certeza de que estes verbos vieram para ficar?

Em todo o caso, recandidatar e conflituar constam da Mordebe, valha-nos isso! Para não ficarmos a pensar que não existem, afinal de contas...

23 novembro 2007

MOS com e sem hífen


Eu agradeço, tu agradeces, ele agradece, nós agradecemos, vós agradeceis, eles agradecem.
Quem é que não sabe que isto é o Presente do Indicativo do verbo agradecer?
Então por que razão há tanta gente a colocar o hífen (indevidamente) entre o radical e a terminação do verbo, na primeira pessoa do plural?

Trata-se de uma confusão entre essa forma verbal (agradecemos) e uma outra, que corresponde a outra pessoa (a terceira do singular ou a segunda do singular, se o verbo estiver no modo Imperativo) e traz uma contracção pronominal após o hífen: me + os (= mos).
Assim, vejamos estas frases:

Enfermeira - Levo-lhe jornais e revistas ao quarto e ele agradece-mos sempre.
A pessoa em causa (ele) agradece os jornais e revistas à enfermeira que fala, daí a contracção me (a mim) + os (jornais e revistas)

Doente - Nós agradecemos sempre às enfermeiras pelas suas atenções.
O doente fala por si e pelos outros doentes, usando a primeira pessoa do plural, que termina em "mos", sem hífen)

Doente - A enfermeira trouxe-me os jornais quando eu não estava no quarto. Se a vires, agradece-mos, por favor.
Neste exemplo (um pouco menos provável), o doente que fala pede a outro que faça algo por ele, por isso também usa "me" (como quem diz "por mim"), agregado ao pronome que representa o objecto directo (os , que substitui jornais). O verbo, aqui, está no modo Imperativo e refere-se à pessoa "tu".

Portanto, quando a pessoa que desempenha a acção expressa pelo verbo "somos" nós, não há hífen antes de mos. Quando se trata de outra pessoa e mos representa complementos do verbo, escreve-se com hífen.
E existe ainda outra forma de sabermos se a forma verbal em causa leva hífen ou não: quando não leva, a sílaba tónica fica mesmo junto à terminação: agradecemos; quando leva, a sílaba tónica "desloca-se" para trás: agradece-mos.

Foi muito confuso?!




21 novembro 2007

Post, postar, poster...

Quem, como nós, é participante activo na blogosfera, já se ouviu certamente dizer que vai “postar um post”. Depois, talvez se tenha sentido um pouco envergonhado, ridículo, ou mesmo ligeiramente traidor – conforme o amor que tenha à sua própria língua.

É inegável que vivemos numa era de importação desenfreada de palavras estrangeiras para o português, sobretudo vocábulos relacionados com as novas tecnologias (mas não só), e principalmente vindos da língua inglesa. É completamente impossível manter uma conversa sobre informática ou sobre o mundo virtual criado pela Internet sem dizer palavras que põem os avós a pensar que os netos já não falam a mesma língua do que eles, como software, e-mail, browser, save, blog, e por aí fora.

Os poucos que se esforçam por traduzir os conceitos, dizendo, por exemplo, “senha” em vez de password, “transferência” em vez de download, ou “caneta” em vez de pen, correm o risco de não serem entendidos, de ficarem de fora ou para trás. Porque a linguagem que se gerou é como um rio poderoso, que arrasta tudo e todos na sua frente.

No entanto, há termos ingleses que provêm do latim e que, apesar de parecerem, não são verdadeiros estrangeirismos. A palavra post, por exemplo, usada por quase toda a gente que tem ou lê blogues, é de origem latina. E desde, pelo menos, o século XIV que se usa o verbo postar em português (de posto, segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado) – obviamente, não com o sentido de “publicar algo num blogue”, mas com um sentido muito próximo, apenas mais abrangente: “pôr, colocar”. Por isso, um poster (post + er), em inglês, designa um cartaz que é afixado, isto é, postado. Ou seja, o sufixo é deles, mas a raiz é nossa!

Portanto, se é ridículo pronunciar “paust” à inglesa, já não pode ser acusado de barbarismo aquele que disser postar, à portuguesa, em vez de “pôr on-line”. Da próxima vez que vos sair esse verbo supostamente moderno, não se retraiam. É do mais vernáculo que há!

19 novembro 2007

Quilos e não “kilos”



Segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado, -quilo- é um “elemento de composição de nomes e medidas criadas pelo estabelecimento do sistema métrico; traduz a ideia de «mil»” e vem do grego chílios.

Não se percebe, por isso, que ainda haja quem cometa o erro de escrever “kilos” em português – confundindo a palavra com o símbolo kg, ou copiando servilmente o inglês.


16 novembro 2007

Acentos a menos

Agora é a vez dos “pecados por defeito”: erros ortográficos por falta de acentos.
E não me venham dizer que os acentos não servem para nada, porque servem e servem muito. Reparem como nos seguintes exemplos a presença ou ausência de acento dá origem a uma palavra diferente:

- estudámos (Pretérito Perfeito do Indicativo) / estudamos (Presente do Indicativo)
- pôr (verbo) / por (preposição)
- pára (verbo parar) / para (preposição)
- influência (nome) / influencia (verbo)
- contínua (adjectivo) / continua (verbo)

Gostaria ainda de salientar algumas palavras graves terminadas em ão, que são frequentemente escritas sem acento: *benção, *orfão, *orgão e *sotão.
Eu até sei porque é que isso acontece. Generalizou-se a ideia de que o til é um acento gráfico e, por esse motivo, hesita-se em colocar um acento na primeira sílaba destas palavras, porque “ficariam com dois acentos e isso não é possível em Português”.
Ora, convém esclarecer que o til não é um acento gráfico, mas sim uma marca de nasalidade, indicando vogais nasais (ex. irmã) ou ditongos nasais (ex. irmão). Normalmente, este ditongo coincide com a sílaba tónica (leão, coração, etc.), mas há casos em que pode não coincidir. Em bênção, órfão, órgão e tão, o acento tónico encontra-se na primeira sílaba.
Experimentem pronunciar pausadamente estas palavras, sem acento, e vão verificar que a tónica recairá na sílaba em que ão se inclui. Vão com certeza achar graça a essa prosódia!

Estas palavrinhas são muito vaidosas, por isso, não se contentam com um adereço apenas, e exigem sempre mais um! Digam lá se não ficam bem mais elegantes com dois!

bênção, órfão, órgão e sótão

14 novembro 2007

Acentos a mais

Alguns erros ortográficos decorrem da falta de acentos, mas muitos resultam também do seu excesso. Considerem-se as seguintes palavras que costumam“pecar” por excesso:

*alcoolémia, *rúbrica, *outrém, *inclusivé, *à priori, *sózinho e *diáriamente.

Alguns destes erros têm origem em vícios de pronúncia, é o caso de *alcoolémia e *rúbrica. (ver E se recusasse fazer o teste da “alcoolémia? e ainda a “rúbrica).

Outros são cometidos por analogia com palavras semelhantes, por exemplo, *outrém (por analogia com ninguém e alguém). Uma das regras de acentuação diz que são acentuadas apenas as palavras agudas (não monossilábicas) terminadas em -em. Ora, outrem é uma palavra grave.

Verifica-se, ainda, uma tendência para colocar um acento gráfico em determinadas vogais abertas: *à priori e *inclusivé. Estas palavras são expressões latinas e, por isso, a sua grafia original deve ser respeitada (em latim não havia acentuação gráfica). Para além disso, se pronunciarmos a palavra inclusive pausadamente, verificamos que o acento tónico recai na sílaba si, logo, não faz sentido colocar um sinal gráfico na vogal /e/.

Por fim, palavras terminadas em -mente e em -zinho têm também por hábito receber um acento! Por exemplo: *sózinho e *diáriamente. Ao associar qualquer sufixo a uma palavra base, o acento tónico avança “uma casa”, passando a recair na primeira sílaba do sufixo. Por isso, essas palavras não devem ter qualquer acento gráfico, já que este daria uma falsa indicação do acento tónico.

Digam lá, então, se as ditas palavrinhas não ficam mais bonitas sem qualquer adereço!

alcoolemia, rubrica, outrem, inclusive, a priori, sozinho e diariamente.

12 novembro 2007

“Encontrar-se-á” ou “encontrar-se-à”?

Muitos têm a tentação de colocar um acento grave nesse a que fica “pendurado” no final das flexões de verbos no Futuro do Indicativo, quando existe mesóclise.

“Mesóclise?! Que palavra estranha! O que é isso?”, estarão alguns leitores a perguntar. Simples: vem de -meso-, elemento de composição de origem grega que significa meio, e usa-se para designar as formas verbais em que o pronome não aparece antes, nem depois, mas sim no meio do verbo. Já agora, porque os palavrões são só três, sistematizemos:

Próclise: pronome antes do verbo. Ex.: “Quem te disse isso?”

Mesóclise: pronome no meio do verbo. Ex.: “Entregar-te-ei em breve”

Ênclise: pronome depois do verbo. Ex.: “Deram-nos mais tempo.”


Ora, na realidade, a mesóclise só o é hoje em dia. Porque aquele á, ou aquele ei, que aparece depois do pronome, no Futuro do Indicativo, e que dizemos ser a terminação do verbo, é o que resta da flexão do verbo haver, que se usava (e ainda usa!) como auxiliar, para exprimir a ideia de futuro. Reparem:


Encontrar-se-á é, na verdade, encontrar-se-(h)á – ou seja: há-de se encontrar

Entregar-te-ei é, na verdade, encontrar-te-(h)ei – ou seja: hei-de te entregar


Assim, não há dúvida: o acento do -á é agudo, exactamente como o acento de . Só lhe falta o h!


09 novembro 2007

Trás não é traz!


Ainda há quem confunda estas duas palavras, tão distintas em termos de significado!

Traz é flexão do verbo trazer (por isso se escreve com z...), na terceira pessoa do singular no Presente do Indicativo (“Ele traz os teus livros”) e também na segunda pessoa do singular no Imperativo (“Traz aquela cadeira, por favor”).

Trás é preposição e é pouco habitual aparecer sozinha, pois costuma usar-se em locuções (por trás, de trás...), ou ser substituída pelo composto atrás.

Porém, não há que enganar: quando é forma do verbo trazer, traz o z do Infinitivo!


Sempre que vejo a porta da imagem, tenho vontade de ir lá bater, para perguntar: “trago o quê?”

07 novembro 2007

Um desafio com o verbo PODER

O verbo poder assume diferentes valores semânticos, consoante o contexto frásico. Vejamos quais são esses valores:

1º valor: permissão - Ex.: Podes usar o meu telefone à vontade!
2º valor: probabilidade - Ex.: Leva o guarda-chuva, porque pode chover.
3º valor: capacidade - Ex.: Este elevador pode levar até 5 pessoas.

Por vezes, este verbo exibe simultaneamente dois valores, dando origem a frases ambíguas. Por exemplo, a frase
“Os ciclistas podem passar por aqui” pode significar:

1. “É-lhes permitido que passem por aqui” (valor de permissão);
2. “É provável que passem por aqui” (valor de probabilidade).

Porém, se substituirmos o sujeito “ciclistas” por um fenómeno da natureza, como “ciclone” (o ciclone pode passar por aqui), há uma leitura que é automaticamente bloqueada. Qual é e porquê?

Nesta linha de pensamento, deixo-vos mais um desafio. Considerem as seguintes frases e digam que interpretações podem ter:

(a) O Tomás pode ir à festa.
(b) O Tomás não pode ir à festa.
(c) O Tomás pode não ir à festa.

05 novembro 2007

Cuidado com a vírgula!

Há tempos, havia por Lisboa cartazes que sensibilizavam a população para a necessidade de reciclar as pilhas. O texto, destacado no meio de um fundo verde, era simplesmente assim:

NO LIXO, NÃO

NO PILHÃO.

Repararam como a vírgula, aliada à falta de pontuação logo após o advérbio não, compromete o sentido da frase?

É que, em muitos casos, a vírgula serve para separar orações. Assim, e sabendo que a linguagem publicitária é muitas vezes elíptica, podíamos perfeitamente interpretá-la da seguinte forma:

1ª oração – uma imperativa, com omissão do verbo e do objecto directo: “[deitem as pilhas] no lixo,”

2ª oração – outra imperativa, com as mesmas omissões: “não [as deitem] no pilhão”.

Ou seja: Deitem-nas no lixo [e] não no pilhão!

Resultado: veiculava-se, ali, exactamente o oposto do que se pretendia!

02 novembro 2007

Sob e sobre

Eis uma confusão que persiste, embora as palavras em causa tenham sentidos opostos. Sob significa “debaixo de” (vem de sub, que se usa como elemento de formação em palavras como subterrâneo e subentender), sobre é “por cima de” e vem de super, que tem o mesmo sentido em latim.

Talvez por se tratar de duas palavrinhas curtas e semelhantes, ouve-se às vezes dizer, erradamente, que alguém está, por exemplo, “sobre pressão”, ou seja, usa-se sobre em vez de sob.

Há dias, numa série informativa do canal Panda, explicaram que “os gorilas vivem em grupos, sobre o comando de um macho líder.” Até estremeci! Uma coisa é ouvir uma pessoa cometer um erro destes na rua... mas num programa supostamente educativo para crianças e adolescentes? Como é que um tradutor comete um erro desses? E como se admite que quem edita e narra o texto não dê por ele?

Os gorilas obviamente obedecem ao líder. Como tal, estão debaixo do seu comando (sob) e não “acima” dele (“sobre”)...


31 outubro 2007

Ovelha ranhosa?!

“Ele é a ovelha ranhosa da família!” Quem nunca ouviu esta expressão?

Espero, com este pequeno texto, surpreender-vos, sem vos desiludir!
Pois é, todas as vezes em que usamos a expressão “ovelha ranhosa”, estamos a cometer um erro. Sabem porquê?

Ronha é uma doença que ataca alguns animais, é uma espécie de sarna. A partir deste nome, formou-se o adjectivo ronhoso, que significa “que tem ronha”. E como sabem, muitas palavras assumem sentidos figurados ou são usadas em registo familiar. É o caso. Ronhoso também significa “manhoso, velhaco”, que origina então a expressão tão conhecida OVELHA RONHOSA.
Quanto a ranhoso, ninguém precisa de esclarecimento acerca do seu significado literal! Esta palavra tem também um sentido figurado, que é “desprezível, reles”, mas nunca é usada como combinatória de OVELHA.

Portanto, nunca mais digam que alguém é a ovelha ranhosa da família!

29 outubro 2007

Curioso invejoso


Quem não ouviu já alguém chamar "invejoso" a quem suscita a inveja dos outros, por exibir o que eles não têm, sem partilhar? Eu lembro-me de, na escola, se dizer muito "não sejas invejoso/a" a quem tinha e não dava - pastilhas ou rebuçados, por exemplo - por puro egoísmo.
No entanto, essa acepção do adjectivo invejoso (que provoca inveja) não consta dos dicionários que consultei, e que apenas atestam o mais imediato: "aquele que tem inveja."

É interessante notar, porém, que o adjectivo curioso foi alvo do mesmo tipo de extensão semântica: de alguém "que tem forte desejo de saber", passou a incluir o sentido de algo "que suscita interesse, curiosidade". E esse outro sentido já consta dos dicionários.
Curioso, não?

26 outubro 2007

Data-limite e ideia chave


Confesso que tenho grande dificuldade em compreender os critérios, se é que os há, para usar (ou não) o hífen em palavras ou expressões como data-limite e ideia chave. Quando alguém me pergunta o que deve fazer para saber como escrever esses termos, aconselho sempre a consulta de dicionários e bases de dados recentes, como o Priberam ou a Infopédia - com a ressalva de que existem muitas divergências entre eles a este respeito, sobretudo quando os compostos em causa são criações recentes na língua.

Por exemplo, o termo data-limite, composto por justaposição, foi consagrado pela Infopédia e também consta da Mordebe, pelo que pode escrever-se assim. No entanto, o dicionário Priberam não o regista e o Houaiss (impresso, Círculo de Leitores) também não.

Ideia chave, por outro lado, não aparece com hífen em nenhum dos três primeiros. Assim, para já, deve ser escrita enquanto expressão, com os termos separados. Mas "ideia-chave" tem 836 ocorrências no Google, só em páginas de Portugal, e estou certa de que muita gente, mesmo sem consultar dicionários, também escreveria assim a expressão. Afinal, porque não?

É por isso que recomendo a consulta de pelo menos três instrumentos credíveis e actualizados. O terceiro é para desempatar...

24 outubro 2007

Protestar também significa afirmar!


O sentido mais imediato (e talvez único) de protestar, para muita gente, é “manifestar-se contra”, o que contudo se aplica a esse verbo apenas nos contextos em que é intransitivo, ou seja, em que não exige complemento (embora este possa constar da oração).

Todavia, basta uma consulta rápida ao dicionário para constatar que protestar significa, em primeiro lugar – enquanto verbo transitivo directo – “prometer ou afirmar solenemente”. Assim, quem protesta algo, como um sentimento, afirma-o, declara-o.

Portanto, se protestar significa prometer, declarar, um dos sinónimos do substantivo protesto pode bem ser promessa, ou declaração. Por isso, são perfeitamente correctas estas duas frases:


Aceite o protesto dos meus melhores cumprimentos. (= a manifestação)

O chefe viu-se obrigado a concordar com o protesto dos funcionários. (= a reclamação)


Aliás, há nas cartas formais outro exemplo de um verbo cujo significado, nesse âmbito, é diferente daquele que usamos mais frequentemente no dia-a-dia, que é acusar. Quem não acusou já a recepção de uma carta? Certamente não estava a culpá-la de nada...

Assim, não estranhem fórmulas como “aceite os meus protestos de elevada estima e consideração”. Podem parecer antiquadas e demasiado eruditas, mas estão perfeitamente de acordo com o sentido das palavras usadas.

22 outubro 2007

Homens que pastam...

Sempre me pareceu que "homens que pastam ovelhas" era uma construção absurda, uma vez que as ovelhas pastam erva, pelo que não tem lógica poder aplicar o mesmo verbo com traços semânticos e sintácticos tão distintos. Escrevi, então, o artigo abaixo, que hoje já não publicaria, graças ao comentário que deixou um leitor atento e que vos aconselho vivamente a ler. Agradeço ao Jorge Pinheiro pela sua chamada de atenção!


É normal confundirem-se os verbos pastar e apascentar, que designam relacionadas, embora muito diferentes. Quem pasta são os herbívoros, quando se alimentam de erva. Quem apascenta são os humanos que levam o gado até ao pasto e aí tomam conta dele.
Quando muito, pode dizer-se, num registo mais poético, que um cão apascenta o gado, se for daqueles muito espertos, que vão sozinhos a acompanhar os ruminantes. Mas seria absurdo dizer que os homens “pastam” ovelhas... como se elas fossem erva e eles as comessem directamente do chão!
No entanto, não só há quem use construções desse tipo, como até quem as publique!

18 outubro 2007

ONDE existe, mas às vezes não se recomenda...

Este relativo é com frequência usado incorrectamente, dando origem a erros não ortográficos, mas sim sintácticos. Observem-se os seguintes exemplos:
* Este foi o jogo onde a nossa equipa obteve melhores resultados.
* Ninguém faltou à reunião onde se aprovou o novo regulamento.

Como já foi dito, ONDE exprime a ideia de “o lugar em que”, devendo, por isso, ser associado unicamente a nomes locativos, isto é, nomes que designam um local ou espaço físico. Por exemplo:

Na cidade onde vivo, há muitos espaços verdes.
Fechei à chave o armário onde guardei os documentos.

“Jogo” e “reunião” são nomes que não exprimem essa ideia. Antes pelo contrário, se reflectirmos um pouco, aos mesmos está subjacente uma certa ideia de tempo.
No entanto, não basta que o nome que antecede este pronome seja um locativo; é necessário ter atenção também ao verbo que o segue, o qual deverá reger a preposição em:

A igreja onde casaram é muito antiga. (Casar em)
*A igreja onde visitei é muito antiga. (Visitar alguma coisa)

Nos casos em que o verbo rege a preposição em, mas o nome não é um locativo, devem usar-se os relativos em que ou no/a qual:

Este foi o jogo em que a nossa equipa obteve melhores resultados.
Ninguém faltou à reunião na qual se aprovou o novo regulamento.


(Nota: O asterisco indica que a frase é agramatical, ou seja, incorrecta do ponto de vista sintáctico)

16 outubro 2007

AONDE existe e recomenda-se!

Muita gente pensa que a palavra aonde não existe, porque julga tratar-se do mesmo -a- que se acrescenta a alguns verbos para dar uma certa ideia de “balanço”, por exemplo: *amandar (em vez de mandar), *assentar-se (em vez de sentar-se), entre outros.
Desenganem-se, porque, apesar da inexistência desses pseudo-verbos, de facto, AONDE existe e recomenda-se!

Comecemos por observar os contextos de uso do pronome que lhe deu origem – ONDE. Este pronome significa “em que lugar” e é usado com verbos estativos, ou seja, que não contêm a ideia de movimento, por exemplo: Onde estiveste ontem?
O pronome AONDE, pelo contrário, significa “a que lugar” e é usado com verbos de movimento, por exemplo: Aonde foste ontem?
Para comprovar a existência de AONDE, sugiro que observem as seguintes três respostas e as suas respectivas perguntas:

Resposta 1: “Vim por Alcácer do Sal. ”Pergunta: “Por onde vieste?”
Resposta 2: “Venho de Coimbra.” Pergunta: “De onde vens?”
Resposta 3: “Vou para casa.” Pergunta: “Para onde vais?”

Podemos concluir que a preposição presente na resposta tem obrigatoriamente de estar na pergunta. (para uma resposta “Vim por Alcácer”, a pergunta nunca poderia ser “onde vieste?”).
Ora, tal como POR, DE e PARA, A também é uma preposição. Logo, parece lógico que quando a encontramos numa resposta, a mesma tenha de ocorrer na pergunta, como verificámos com as preposições acima. Assim,

Resposta: “Vou a casa buscar um casaco.” Pergunta: "AONDE vais?"

A única diferença é que a preposição A, como se sentia muito só, pediu o pronome ONDE em casamento, daí a aglutinação – aonde !!

12 outubro 2007

Qualquer, quaisquer e quais queres

O determinante indefinido qualquer é uma palavra composta por aglutinação, tal como malmequer, lengalenga ou pontapé. O plural deste tipo de palavras forma-se, normalmente, flexionando apenas o segundo elemento. Assim, temos malmequeres, lengalengas, pontapés. No entanto, No caso de quaisquer, só o primeiro elemento se flexiona, pelo que podemos dizer que se trata de uma excepção à regra geral.

Em todo o caso, não existem em português palavras compostas por aglutinação cujo plural seja obtido através da flexão dos dois elementos. São, pois, erradas as formas "quaisqueres" e "lengaslengas", que no entanto muito se lêem e ouvem por aí.

Mas atenção! Podemos dizer quais queres sem receio de sermos corrigidos ou criticados... se usarmos o pronome qual no plural, seguido do verbo querer conjugado na segunda pessoa do singular, no tempo Presente do Indicativo. Por exemplo em: “Não pus os teus livros na mala, porque não sei quais queres levar.”












Foto enviada pela Joana. Obrigada, Joana!

10 outubro 2007

“Empregue” e “encarregue”


Embora andem na boca de muita gente, os particípios “empregue” e “encarregue”, dos verbos empregar e encarregar, não constam dos actuais dicionários e bases de dados de português. Não é, portanto, correcto, dizer-se “isso é dinheiro mal empregue” ou “ela está encarregue da revisão do texto”.
Se têm dúvidas, experimentem consultar a Mordebe, os dicionários Priberam ou Porto Editora, por exemplo, ou outros dicionários impressos recentes.
Tanto quanto sei, apenas o Vocabulário de Rebelo Gonçalves atesta a existência dessas duas formas participiais. E qual é o problema desse Vocabulário, que é uma das grandes obras de referência, por exemplo, do Ciberdúvidas? É que a obra data de 1967, quase ninguém a conhece e não está disponível no mercado. Não se pode, pois, encarar este vocabulário, por mais bem conseguido que esteja, por mais útil que seja, como regra para os nossos dias.
Paradoxalmente, porém, e apesar de nenhum dos actuais instrumentos de consulta que verifiquei apresentar os particípios "empregue" e "encarregue" no quadro dos respectivos verbos conjugados, é inegável que, se tantos falantes os utilizam, o tal Vocabulário é, no que respeita a esses itens, mais fiel ao uso actual do que as modernas bases de dados!
Conclui-se, portanto, que há qualquer coisa que não está bem...

09 outubro 2007

Comida à “descrição”?!

À porta de alguns restaurantes tipo rodízio, há umas tabuletas com um slogan apelativo que nos convida a entrar: “Comida à descrição!”
Durante alguns instantes, fico ali trépida, reticente, com um pé dentro, outro fora, sem saber bem o que fazer perante a fealdade daquele erro que me tira logo o apetite...

Mas, afinal, qual a diferença entre descrição e discrição? E qual a expressão correcta: à descrição ou à discrição?
Descrição é o acto de descrever, por exemplo, “A lojista fez uma descrição minuciosa do assaltante.
Discrição é a qualidade do que é discreto: “Ela veste-se com muita discrição.”
A expressão à discrição, frequentemente usada, significa “à disposição, à vontade, sem restrições”.
Parece não haver qualquer relação entre esta expressão e a palavra discrição, porém, os dicionários etimológicos dizem-nos que o significado original de discrição é precisamente “capacidade de ser prudente, de se conter”.

Até parece um contra-senso, porque quando comemos num desses restaurantes “à discrição”, somos tudo menos discretos!

08 outubro 2007

Ainda os acentos... palavras terminadas em -inho/a



Esta regra, prometo, é muito simples: NENHUMA palavra terminada em -inho ou -inha leva acento gráfico.

Portanto, deixem-se de “avôzinhos” e “avózinhas”, de “cafézinhos”, de “cházinhos”, de “baínhas”, “pézinhos” e, sobretudo, de “sózinhos”!

É que em todas essas palavras a vogal tónica é o i da penúltima sílaba. E não se pode colocar acento agudo ou circunflexo noutra vogal que não seja a tónica, por mais aberto que seja o seu som.

04 outubro 2007

Incarnar ou encarnar?


Eu bem tento ler um livro pelo seu conteúdo, deixar-me absorver pela informação que estou a retirar da leitura. Mas, a cada passo, vejo-me obrigada a parar e a questionar-me sobre o uso da língua que o autor ou o tradutor faz. Por mais interessante que seja o assunto (e é!), não consigo evitar distrair-me com o português! É o mal da minha profissão...

Desta vez, fiquei perplexa com o facto de, na mesma página do livro que citei no desafio de ontem, aparecerem duas variantes da mesma palavra:


Muhammad Yunus incarna antes de mais o ideal híbrido [...].


Estes alter-empresários [...] não se manifestam para reclamar a mudança, encarnam-na e provocam-na.


Como se não bastasse, na página seguinte ainda li:


Então incarnemos o desenvolvimento sustentável nos exemplos de sucesso [...].


...e achei que deveria ter a humildade de ir verificar se o verbo “incarnar” não existiria mesmo, ao contrário do que eu pensava. O resultado na Mordebe foi “palavra não encontrada”. Porém, e depois de a Infopédia me ter aconselhado a verificar a ortografia da palavra incarnar, que também não constava da base de dados, pasmei quando abri o dicionário on-line da Texto Editora, que apresentava incarnar como variante de encarnar (na verdade, o verbo em latim começava com i).

Agora ficam-me duas perguntas: por que razão aqueles dicionários não apresentam a mesma informação em relação a este item? E por que motivo o tradutor do texto resolveu usar alternadamente uma e outra grafia?

E depois admiram-se que eu só leia uma página do livro por dia!!



03 outubro 2007

Desafio

Esta frase está correcta ou não? Porquê?

“Os cerca de duas dezenas de colaboradores que actualmente me rodeiam partilham todos da mesma preocupação de resultados concretos, para um impacto global positivo.”

De: Maximilien Rouer, Prefácio a 80 Homens para Mudar o Mundo. (Trad. Maria Amélia Pedrosa. Porto, Ambar, 2005, p.16).

01 outubro 2007

Em diferido ou em deferido?

Com o desporto a inundar os nossos ecrãs, em particular, o futebol, pode surgir-nos esta dúvida:
“O jogo vai ser dado em diferido ou em deferido?”
Pois bem, vamos lá saber que significados podem assumir estes dois verbos.
Deferir significa aprovar, conceder. Se fiz um requerimento, posso dizer que “o meu pedido foi deferido”, ou seja, “foi aceite”.

Diferir, por sua vez, exibe dois significados: 1. ser diferente, divergir: “A minha opinião difere da tua”; 2. adiar, transferir para outra data: “Vou diferir o pagamento deste serviço”.
E é com esta segunda acepção que a nossa dúvida fica resolvida:
Um jogo que não é transmitido em directo é, sim, transmitido em diferido!

28 setembro 2007

PIMBA!


Hoje em dia, a palavra pimba pode pertencer a duas classes gramaticais e ter dois significados distintos em português europeu, sendo que o segundo decorre do primeiro.

Antes de mais, é uma interjeição de origem onomatopaica, usada para exprimir o ruído, geralmente inesperado, de uma acção que envolve o choque físico. Por exemplo em: “e o palhaço... pimba! Voltou a bater na cabeça do outro.”

Esta interjeição, usada na letra de canções como “Pimba Pimba” de Emanuel (“E se elas querem um abraço, nós pimba! Nós pimba!”), levou a que o termo pimba começasse a ser empregado para qualificar esse tipo de música popular, de letra brejeira (para não dizer mais nada...) e considerada de mau gosto, adquirindo assim um sentido depreciativo que foi não obstante repudiado pelos defensores do “estilo pimba”.

Hoje, em linguagem familiar e mesmo corrente, podemos falar de canções e cantores pimba, porque todos estamos familiarizados com este termo bem expressivo.

Embora ocorram muitas conversões em português, pimba deve ser um dos raros casos em que uma interjeição se transforma num adjectivo.

26 setembro 2007

Não basta a ideia, é preciso rigor!

No concurso “Sabe mais do que um miúdo de 10 anos?”, o apresentador perguntou um destes dias qual era “a propriedade que indica que a água não tem sabor”. Para meu espanto, a resposta considerada correcta era... insípida. Ora, a propriedade, ou característica, será antes a insipidez. Insípida é o adjectivo com que qualificamos a água em si, pelo que é pouco rigoroso usá-lo como sinónimo de um substantivo.


25 setembro 2007

Extra com hífen



Já todos nós, ou quase todos, formámos uma palavra nova através da junção entre o prefixo extra e um adjectivo. O anúncio que aqui se vê usa-o para formar advérbios, mas incorre num erro, que é não usar o hífen para separar o prefixo da palavra começada por h, "humanamente". Acontece que palavras formadas com prefixos como auto, contra, extra, infra, pseudo, etc. devem ter hífen sempre que o segundo elemento começa por h, r ou s.

As regras de emprego do hífen são muitas e difíceis de decorar. Mas não custa nada consultá-las!


23 setembro 2007

Explicações de "Françês"?!


É compreensível que alunos do ensino básico se baralhem e utilizem ç em vez de c em palavras como você e francês. O que não se admite é que pessoas adultas que se propõem conduzir estudo acompanhado e dar explicações (do 1º ao 12º ano) num ATL tenham colocado este anúncio na janela. É caso para nos questionarmos: se não sabem que, em português, o c só leva cedilha antes de a, o e u, serão de confiança para ensinarem às crianças a língua francesa?
Espanta-me, ainda, que este anúncio esteja afixado há largos meses, sem que ninguém, até agora, tenha dado pelo erro, ou tido a preocupação de o emendar.
Talvez já tenhamos chegado ao ponto em que alguns explicadores não sabem mais do que um miúdo de dez anos...

21 setembro 2007

“Informamos que” ou “de que”?

O verbo informar requer, à partida, dois complementos, um deles directo (informamos alguém) e o outro preposicionado (sobre ou de alguma coisa).

Em princípio, estando os dois complementos presentes na frase, a preposição exigida antes do segundo complemento não deve ser omitida. Portanto, “Informamos os nossos estimados clientes de que o estabelecimento se encontra encerrado para obras”.

No entanto, é possível que, na frase, esteja ausente o complemento directo (a pessoa ou entidade a quem se informa). Nesse caso, é legítimo omitir a preposição de antes da conjunção que: “Informamos que o estabelecimento se encontra encerrado.”

Alguns autores consideram correctas as construções em que se omite o de, mesmo quando o complemento directo está presente (pelo que também seria aceitável escrever “Informamos os nossos estimados clientes que o estabelecimento se encontra encerrado”). O que todos consideram INCORRECTO é usar a preposição de nos casos em que o complemento directo está ausente: “Informamos de que o estabelecimento se encontra encerrado”.

19 setembro 2007

Não experimente “exprimentar”!


Como atesta a imagem gentilmente enviada pela Dulce, há por aí quem se esqueça de certas letras em determinadas palavras, como experimentar, adivinhar, adequar e subestimar, que assim aparecem como “exprimentar”, “advinhar”, “adquar” e “substimar”.

É verdade que esses grafemas correspondem a sons que mal se ouvem, mas essa não é razão suficiente para atentarmos contra a ortografia vigente... afinal, são as regras ortográficas que salvaguardam a unidade necessária para que nos entendamos por escrito! Embora, pessoalmente, seja uma adepta do alfabeto fonético internacional. Se todos os falantes das várias línguas o utilizassem, qualquer um poderia facilmente pronunciar uma sequência escrita noutro idioma, para além da vantagem de ninguém cometer erros de ortografia, porque cada som apenas seria representado por um único símbolo!


14 setembro 2007

Acordo ortográfico: uma unidade sem futuro


Na revista brasileira Veja do passado dia 12, há um interessante artigo sobre a importância do domínio da língua no sucesso profissional, acompanhado de considerações sobre as mudanças que o novo acordo ortográfico trará ao português, com depoimentos de escritores, linguistas e professores brasileiros.

Segue-se um artigo de opinião de Reinaldo Azevedo que gostei particularmente de ler, pois retrata a situação do ensino no Brasil desde a década de 70, em particular no que se refere à moda de prezar o “uso criativo” da língua por parte dos alunos, em detrimento do ensino da gramática e da dotação dos educandos com “instrumentos que abrem as portas da dificuldade”. Optou-se, no seu entender, “pelo mesquinho, pelo medíocre, pelo simplório.” (Onde é que já ouvimos isto?!). Não resisto a citar alguns excertos:


As aulas de sintaxe – sim, leitor, a tal “análise sintática”, lembra-se? – cederam espaço à “interpretação de texto”, exercício energúmeno que consiste em submeter o que se leu a perífrases – reescrever o mesmo, mas com excesso de palavras, sempre mais imprecisas. (...) A educação, ao contrário do que prega certa pedagogia do miolo mole, é o contrário da “sedução”. Quem nos seduz é a vida, são as suas exigências da hora, são as suas causas contingentes, passageiras, sem importância. É a disciplina que nos devolve ao caminho, à educação. Professores de português e literatura vivem hoje pressionados pela idéia de “seduzir”, não de “educar”. (...) As reformas ortográficas, acreditem, empobrecem a língua. Não democratizam, só obscurecem o sentido. Uma coisa boba como cassar o “p” de “exce(p)ção” cria ao leitor comum dificuldades para que perceba que ali está a raiz de “excepcional” (...).

Defendendo a restauração em vez da reforma, Reinaldo Azevedo conclui avisando que “A unidade só tem passado. E nenhum futuro.”

Julgo compreender este ponto de vista, já que o uso de uma língua está estritamente ligado às idiossincrasias da cultura própria dos seus utilizadores. Pretender que os portugueses escrevam “fato” em vez de “facto”, ou que os brasileiros passem a grafar “lingüiça” sem trema é, talvez, comparável a obrigar os primeiros a dançar o samba nas festas populares e os segundos a comer bacalhau no Natal.

E com estas palavras gostaria de estimular o debate no espaço reservado aos comentários...

12 setembro 2007

outrem, nuvem e constroem

Eis três palavras que parecem uma verdadeira tentação: é que quase ninguém resiste a colocar-lhes um acento agudo!

Sendo todas elas graves, nenhuma deve ser escrita com acento, pelo que é incorrecto grafá-las assim: “outrém”, “núvem” e “constróem”.

Explica-se isto porque a nossa tendência natural, enquanto falantes de português, é para pronunciarmos as palavras que acabam em -em com tónica na penúltima sílaba. Não precisam, portanto, de acento, as palavras outrem, nuvem e constroem, tal como tantas formas verbais, como fazem, comem, bebem, vivem... Bem vistas as coisas, é tão absurdo escrever “núvem” e “constróem” como seria ridículo escrever “ôntem” ou “lútem”!

Pelo contrário, palavras agudas terminadas em -em, essas sim, levam acento gráfico (alguém, também, Belém) – excepto as monossilábicas – precisamente para que não sejam pronunciadas como se fossem graves. Desta forma evidenciamos a diferença entre, por exemplo, contem e contém.

Portanto, no erro frequente “outrém, há duas incorrecções: primeiro, acentuar graficamente uma palavra grave terminada em -em e, segundo, colocar o acento sobre a vogal e, que nem sequer é tónica.

O caso de “constróem” também é duplamente grave, pois não só se trata de um erro de acentuação, como é um erro que o corrector automático do meu computador me aconselha, em vez da forma correcta constroem!

10 setembro 2007

Controlo e controle


Enquanto substantivo, e em português europeu, controle é uma variante de controlo. Ambas as formas estão consagradas em diversos dicionários, sendo no entanto a última preferível, segundo os linguistas portugueses.

E por que motivo devem os Portugueses dizer e escrever, por exemplo, “está tudo sob controlo”, enquanto os Brasileiros optam por “está tudo sob controle”?

Ao contrário do que muitos pensam, não é por causa das novelas brasileiras que alguns portugueses dizem controle. O termo é um galicismo, ou seja, entrou no nosso léxico por influência da língua francesa, e - tal como biciclete, camionete, equipe e omelete – foi posteriormente adaptado à nossa língua (e temos agora bicicleta, camioneta, equipa e omeleta). No caso de controle, substituiu-se o -e final por um -o em vez de um -a, mas o procedimento é idêntico. Trata-se de uma alteração que tem vingado entre os portugueses (provavelmente teve início na linguagem popular e corrente, estendendo-se depois aos registos mais cultos), embora não entre brasileiros, que tendem a preferir as formas mais próximas do francês, terminadas em -e.

07 setembro 2007

Quando a flexão se torna criação

É interessante verificar como são produtivos em português os sufixos diminutivos e aumentativos, como -ito, -eco, -aréu, -ucho, -arra e tantos outros, que parecem servir apenas para conferir maior expressividade à linguagem, através da criação de substantivos mais “coloridos” e adaptados à realidade que se pretende representar.
Assim, em vez de falar simplesmente de um pardal, de um miúdo, de um fogo, de um papel, de uma boca, às quais depois associamos determinados adjectivos, podemos referir-nos a um pardalito, a um miudeco, a um fogaréu, a um fatucho, a uma bocarra. E não deve haver muitas línguas em que isso seja possível!“Mas esses sufixos diminutivos e aumentativos não têm grande utilidade na linguagem do dia-a-dia!”, dir-me-ão. No entanto, muitos deles permitiram criar palavras novas, cujo significado não se resume à soma do sentido do sufixo ao do radical. Por exemplo palhinha, latão, cavalete, pastilha... já tinham pensado nisso?

04 setembro 2007

Síndroma


Há dias ouvi um alguém declarar, na TSF, que não tinha “o sindroma de Aljubarrota”, a propósito da antipatia de muitos portugueses pelos espanhóis.
Ora, apesar deste uso frequente do substantivo síndroma como se fosse grave (portanto, escrito sem acento no i e pronunciado com tónica na penúltima sílaba, -dro) e masculino é, até agora, incorrecto.
O termo admite duas grafias e duas pronúncias (síndroma e síndrome, mas não “sindroma”) e é sempre feminino, seja qual for o domínio do seu significado (literal ou figurado).
Se não acreditam, confirmem aqui ou aqui, por exemplo.
E bom regresso ao trabalho, se for o vosso caso!

31 agosto 2007

Capaz

Capaz é um adjectivo que comporta, entre outros, o significado “que tem capacidade”. Os outros sentidos estão enumerados, por exemplo, neste dicionário virtual. No entanto, os dicionários não contemplam todas as possibilidades semânticas dos vocábulos, sobretudo no que toca aos vários registos de língua (popular, familiar, calão, gírias...) e às colocações, isto é, expressões em que as palavras se inserem e que têm um significado específico, diferente da simples associação dos sentidos de cada um dos termos que nelas se incluem. É o caso de “ser capaz de”, que pode significar (embora nem sempre signifique), na linguagem familiar, algo semelhante a talvez. Por exemplo, a frase “Ela é capaz de não ir” pode ser substituída, sem mudança de sentido, por “ela talvez não vá”.

Acontece que, quando a expressão “ser capaz de” é usada com esse sentido adverbial, existe alguma tendência para encarar a palavra capaz como se fosse invariável, ou seja, não a flexionando em número. Contudo, capaz continua a ser um adjectivo e, como tal, varia em número de acordo com o substantivo ou pronome que qualifica. Assim, seria incorrecto dizer “eles são capaz de não voltar antes de domingo”, pois há nessa frase um erro de concordância. Diga-se, antes, “eles são capazes de”...

24 agosto 2007

ANUNCIE SEM ACENTO!


A “nossa” Mafalda descobriu este erro ortográfico, que teve a amabilidade de nos enviar. É daqueles que passam despercebidos a muitos falantes, sobretudo àqueles que confessam ter muitas dúvidas sobre acentos gráficos.


Contudo, as regras de acentuação gráfica em português são poucas e quase todas lógicas e naturais. E para as compreender basta saber que os acentos (agudo e circunflexo) servem para indicar qual é a vogal tónica (a que se pronuncia com mais “força”), nos casos em que poderia haver dúvidas.


Em anuncie, é descabido colocar o acento agudo na vogal “u”, que NÃO é tónica nesta flexão do verbo anunciar. Em anúncio, sim, o “u” é a vogal tónica e a palavra leva acento gráfico por ser esdrúxula. Só assim não será pronunciada como anuncio, primeira pessoa do verbo anunciar no Presente do Indicativo!


Os amigos da Mafalda riram-se da sua mania de encontrar erros em todo o lado. Com efeito, a nós, que queremos bem à nossa língua, dizem-nos: “Lá estás tu!... que mal é que tem um acento a mais ou um acento a menos?...” Mas a todas as pessoas que escrevem, imprimem e afixam textos com erros ortográficos ninguém se lembra de dizer: “Lá estás tu! Então não consultaste primeiro o prontuário ortográfico?”

20 agosto 2007

Porque e por que



Antes de tentar lançar alguma luz sobre a diferença entre porque (junto) e por que (separado), é preciso dizer que NÃO existe consenso entre os especialistas em língua portuguesa e que Portugueses e Brasileiros aplicam critérios diferentes na utilização da palavra/locução.
No entanto, e apesar da polémica - que está longe de chegar a um termo (vejam por exemplo os comentários ao esclarecimento prestado na rubrica de Dúvidas Linguísticas do Público a partir daqui) - gostaríamos de avançar com a nossa humilde opinião.

A palavra porque – deve ser usada sempre que é pronome interrogativo (por exemplo em “Porque é que o João não foi?”) ou conjunção explicativa (por exemplo em “Não foi, porque estava de férias.”). No primeiro caso significa o mesmo que “por que motivo” e nunca é seguida de um nome (reparem que nunca perguntaríamos, pelo menos em português de Portugal, "Porque o João não foi?"). No segundo caso significa “uma vez que” e serve para ligar orações.

A locução por que – deve ser empregada quando podemos substituir a palavra que por qual. Por exemplo em “Por que (=qual) caminho foste?”. Pode usar-se tanto em frases interrogativas como em declarativas. Por exemplo em “Foi essa a razão por que (= pela qual) não falei”. Em ambos os casos, como é fácil verificar, a separação entre por e que justifica-se por se tratar de duas palavras com classes e funções gramaticais diferentes, sendo a primeira uma preposição e segunda um determinante ou um pronome, conforme o caso.

15 agosto 2007

Mais pequeno?!

Se há uma regra gramatical que nós, Portugueses, aprendemos desde cedo, é a da flexão irregular de certos adjectivos em grau. Todos sabemos que bom e mau, grande e pequeno, no grau comparativo e também no superlativo relativo, se transformam em melhor, pior, maior e... menor. E aprendemos tão bem a lição que, em adultos, não hesitamos em corrigir as crianças que caem na “asneira” de dizer “mais bom” ou “mais grande”.

Curioso é, porém, que haja entre os casos desta regra uma excepção que é paradoxalmente escandalosa e discreta, para quem fala a versão da língua usada deste lado do Oceano Atlântico. Eu explico; ou melhor, alguém me explica: por que motivo andamos todos a dizer e a escrever, alegremente, mais pequeno, quando nunca ousaríamos usar a expressão “mais grande” e talvez nem mesmo “menos pequeno”?! Como e quando é que o adjectivo pequeno, no grau comparativo de superioridade, passou a escapar à regra?

Uma pergunta que gostaria de fazer, se pudesse, a todos aqueles portugueses que já se permitiram pensar, num assomo de veleidade e arrogância, que no Brasil se fala “mal” a língua portuguesa. É que lá, meus caros, também é errado dizer “mais pequeno” em vez de menor!

07 agosto 2007

INTERREGNO


Desculpem a falta de artigos, mas temos duas boas razões.

A primeira é ser Agosto o nosso mês de férias. E por mais que queiramos deixar-vos aqui as nossas ideias, mesmo em tempo de lazer, falta-nos a ligação à Internet nas zonas de veraneio onde nos encontramos ;)

A segunda é que eu, S. Leite, acabo de ser mãe pela segunda vez e por isso tenho dificuldade, neste momento, em pensar noutras coisas além de fraldas, amamentação e, é claro, dar carinho ao meu pequeno príncipe.

Contamos, portanto, com a vossa compreensão. E esperamos que não deixem de nos visitar por causa deste interregno!