21 fevereiro 2007

Mais shampoo... ou champô!



Adaptar ou não adaptar as palavras estrangeiras, de forma a que se adeqúem melhor às regras ortográficas do português... Não chegámos a dar a nossa opinião, quando aflorámos o assunto no dia 16.

Ora, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, não se trata apenas de optar por uma ou outra via ("blog" ou "blogue"...) e seguir o mesmo critério para todas as palavras que vão surgindo. Isso seria fácil de mais para funcionar na prática.

A questão que se deve colocar para cada termo é esta: o aportuguesamento representa uma maior clareza, no que respeita à pronúncia? Porque, na esmagadora maioria dos estrangeirismos, os falantes que os "importam" preocupam-se em pronunciar as palavras como o fazem os falantes da língua de origem. Dizemos, por exemplo, "sârfe" (e não "surfe"), "bâicane" (e não "bácôm"). Mas não mudámos a grafia das palavras surf e bacon. Porquê?

No nosso entender, nesses dois casos como em muitos outros, a adaptação não seria conveniente, porque o resultado seriam palavras de forma estranha e que talvez não suscitassem uma leitura inequívoca. Já "futebol" e "maionese", por exemplo, não deixam dúvidas quanto à respectiva pronúncia e têm uma forma perfeitamente aceitável... até parece que nasceram cá!

Porém, no que respeita a decidir se a adaptação é legítima ou não, nem temos de nos preocupar muito, porque os falantes (e "escreventes"!) costumam optar, intuitivamente, pelas formas que são mais simples de entender. E que são agradáveis à vista! Porque se trata também, no fundo, de uma questão de sensibilidade, digamos, à falta de melhor termo: "ecrã" e "batom" parecerão a qualquer pessoa adaptações lógicas, enquanto "imaile" e “tisharte” têm uma forma que, logo à partida, não convenceriam nem conquistariam ninguém.

Os termos estrangeiros levam tempo a integrar-se na língua ao ponto de já nem repararmos que vieram de outra. Mas não vale a pena desesperarmos por causa disso! Como muitos leitores sugeriram, o melhor mesmo é aceitar que se usem, pelo menos temporariamente, duas grafias para a mesma palavra. O tempo encarregar-se-á de apagar uma delas.


7 comentários :

Anónimo disse...

Está tudo dito. E muito bem!
Comentários para quê?
Venha a próxima, que estou a gostar.

Anónimo disse...

Professoras, boa sorte para o segundo semestre :D
Que venham a boas notas e as gargalhadas!
Beijinhos, até logo

casccalensə disse...

Daí a questão: "gay" ou "guei"? A segunda já se apresenta no dicionário Houaisse da Língua Portuguesa.

casccalensə disse...

Tenho uma dúvida:

As palavras "super", "inter" e "anti", não deveriam estas ser escritas "súper", "ínter" e "ânti"? A terceira ainda percebo que talvez a sílaba tónica seja mesmo a última, e daí "anti" estar bem escrito, mas as duas primeiras não me convencem...sendo que como têm vindo a ser escritas deveriam ler-se "supêr" e "intêr".

:P

S. Leite disse...

Excelente dúvida, Casccalense. É que os prefixos são precisamente a excepção à regra de acentuação que obriga a marcar com acento gráfico as palavras graves terminadas em r...!

S. Leite disse...

Quanto a "guei", só mesmo no Brasil. Não imagino que os portugueses adiram a essa ortografia em tempo algum.

S. Leite disse...

Isto sem qualquer crítica subjacente aos brasileiros, pela sua tendência para adaptarem a grafia das palavras estrangeiras. Pelo contrário, acho que os portugueses são excessivamente conservadores e retrógrados nessa matéria. Talvez seja mesmo um dos poucos aspectos do acordo ortográfico que traria vantagem para a nossa língua, que cada vez tem mais palavras importadas tal e qual, deste lado do oceano.