27 abril 2007

Piada seca

- Qual a palavra mais comprida em português?
- ?
- ARROZ!
- Arroz?
- Sim. Porque começa em A e acaba em Z! :)


A propósito, de onde terá surgido a expressão "piada seca"?

26 abril 2007

Dilema

"Um garoto, sozinho em casa, tenta-se a provar a bebida que está numa garrafa. Diz lá «Veneno». Hesita, e à semelhança do que o pai costumava fazer, consulta um dicionário: «substância que envenena». Envenenar, nova consulta: «tornar venenoso». Já agora (o pai também procura muito) venenoso = «que contém veneno». Fechou-se o círculo. Bebo ou não bebo?”

Aldónio Gomes e Fernanda Cavacas, A Vida das Palavras: Léxico

O pai do garoto até incutia um excelente hábito ao rapaz. Infelizmente, não dera a devida importância à escolha de um bom dicionário, que não caísse numa circularidade viciosa, e que definisse os termos de forma rigorosa e inequívoca...!

23 abril 2007

No embalo da "embalagem"

Há dois substantivos derivados do verbo embalar - embalo e embalagem - que podemos usar para nos referirmos ao "acto ou efeito de embalar". No entanto, apenas um deles deve ser usado, em sentido figurado, para designar "ímpeto", o "impulso recebido por alguém ou alguma coisa": embalo.
Há uns bons anos, começou-se a falar em "ganhar embalagem" (como quem diz ganhar balanço) e muita gente aderiu a essa moda, passando a preterir o termo "embalo" nesse e noutros contextos. Todavia, se forem à Infopédia, confirmá-lo-ão: além de significar o acto de embalar, a embalagem é mesmo o pacote...

20 abril 2007

O Torneio

Foi hoje o dia das provas finais e já apurámos os vencedores! Desde já, queremos felicitá-los pela sua excelente prestação.
Mas todos os finalistas estão de parabéns e a todos agradecemos o facto de se terem submetido às provas - sim, porque, afinal, tratou-se de um momento de tensão, apesar de tudo.

ALUNOS DO ISEC:

1º LUGAR - Sara
2º LUGAR - Vera
3º LUGAR - Raquel

ALUNOS DO 4º ANO DO 1º CICLO:

1º LUGAR - Tiago
2º LUGAR - Catarina
3º LUGAR - Afonso

Como sabem, os prémios serão entregues no domingo, na festa do ISEC. Até lá, bom fim-de-semana. Descansem, que bem merecem! E, se quiserem, deixem aqui comentários e sugestões, para que o Torneio do próximo ano seja mais do vosso agrado.

19 abril 2007

As valências do “vá lá”


É curioso como uma expressão aparentemente simples e linear pode ser tão rica e variada em significados, graças aos poderes da entoação.

A expressão “vá lá” é das minhas preferidas e, embora ainda não tenha procurado, desconfio que nos dicionários não se encontra toda a informação que faça justiça à sua expressividade e à sua potencialidade semântica. Aqui fica o meu contributo para que sejam registados esses dados:

a) vá lááá! [entoação arrastada, semi-cantada, decrescente]: súplica, pedido de concessão de algum favor. Ex.: “Vá lá, deixa-me ver o que tens aí escondido!”

b) vá lá! [entoação crescente, exclamativa, breve]: o m.q. menos mal, tanto melhor; expressão usada quando o resultado de uma acção é satisfatório e/ou excede as expectativas. Ex.: “Pensei que ele ia ser apanhado, mas, vá lá, safou-se!”

c) vá lá... [entoação breve, peremptória, seca]: concessão algo contrariada de um favor, indica permissão, especialmente quando não seria suposto concedê-la. Ex.: “Vá lá... podes deixar isso assim. Mas a próxima tem mais cuidado.”

d) vá lááá! [entoação desesperada, prolongada q.b., subindo e logo descendo em "lá"]: incitamento a uma acção urgente, instigação para que outrem se apresse. Ex.: “Vá lá, anda para a frente, depressa!”


18 abril 2007

Um cheirinho da prova...

Para os excelentíssimos finalistas - e para quem tiver curiosidade - aqui ficam algumas das perguntas que fizemos no Torneio ISEC de Língua Portuguesa 2006 e que servem como amostra do tipo de questões que podem ser feitas este ano:

1. A palavra pus:

A – escreve-se com z apenas quando é uma flexão do verbo pôr
B – escreve-se com s, apenas quando é uma flexão do verbo pôr
C – escreve-se com s, seja qual for o seu significado

2. A flexão terdes, do verbo ter:

A – não existe
B – corresponde à segunda pessoa do plural no Futuro do Conjuntivo
C – corresponde à segunda pessoa do plural no Infinitivo Pessoal

3. Imiscível designa algo que não se pode:

A – saber
B – imiscuir
C – misturar

4. Sóbrio manifesta sobriedade, parco manifesta...?

5. Como se denomina a antipatia pelas pessoas ou coisas estrangeiras?


E lembrem-se: o importante é participarmos, divertirmo-nos e também aprendermos um pouco. O resto é extra!

17 abril 2007

O fenómeno do "muita"

Todos os dias passo por um grande cartaz de publicidade ao Jardim Zoológico onde se pode ler "os nossos gatos são muita graaaaaaaaandes" ou algo parecido.
Primeiro pensei que talvez fosse gralha, aquele "a" do muita. Mas depois concluí que devia ser propositado, para que a frase se aproximasse mais do discurso familiar. De facto, há muita gente que diz muita em vez de muito! Sobretudo quando fala com amigos, em ambiente informal.
Então fiquei a pensar (até parece que não tenho mais nada em que ocupar a mente...!): a que propósito é que tantos portugueses se renderam a esta estranha mudança de género do advérbio muito, MESMO quando esse advérbio modifica adjectivos masculinos (por exemplo, em "ele é muita bom" ou "isto é muita giro").
Não sei qual é a vossa opinião, mas estou curiosa. E tenho uma teoria (sim, daquelas que não servem para nada, apenas para me divertir a degustar a nossa língua!): concluí que a transformação do o em a não tem nada que ver com género, mas acontece porque o a, sendo uma vogal aberta (bem mais aberta do que o u, que é o som que tem o o de muito), é muito mais ENFÁTICA. Ou seja, ao abrirmos mais a boca (para dizer muitA em vez de muito), tornamos a palavra bem mais expressiva. E é isso que normalmente pretendemos quando usamos "muita": conferir maior expressividade à frase. Concordam ou discordam?

16 abril 2007

"Há-des cá vir..."

Quem é que não ouviu já esta expressão? Poucos, certamente...

As formas "há-des" e "há-dem" são flexões erradas, como muitos sabem, do verbo haver (de), no Presente do Indicativo, usadas em vez de hás-de e hão-de. A maioria dos portugueses bem falantes, sobretudo professores, sente arrepios cada vez que ouve essas pseudo-flexões.

Mas o que é curioso é que muitas das pessoas que cometem este erro SABEM que se trata de uma incorrecção, mas usam-no, ainda assim, "porque dá mais jeito."
E a verdade é que grande parte das alterações que ocorrem nas línguas, ao longo do tempo, acontece precisamente porque aos falantes "dá mais jeito" dizer as palavras de determinada forma em vez de outra, trocando consoantes (de semper para sempre), acrescentando (de mostrar para amostrar) ou suprimindo sons (de mare para mar), etc. Quem não se lembra de ter decorado, na escola, os "fenómenos" fonéticos", com aqueles nomes difíceis como apócope, epêntese ou paragoge?

A nossa tendência, em cada momento histórico, será naturalmente a de condenar as alterações que se vão insinuando como resultado da ignorância, do "desrespeito" pela língua. Mas até mesmo os puristas acabam por ser apanhados a usar um termo que, tempos atrás, fora condenado por outros como eles.

13 abril 2007

Trava-destrava-línguas

Em conversa com outra professora, surgiu a dúvida: é "trava-línguas" ou "destrava-línguas" que se deve dizer?
Confesso que não tinha uma resposta definitiva, embora me parecesse que "trava-línguas" era o termo mais comum. Tive, ainda, o pressentimento de que "destrava" pudesse ser mais um daqueles fenómenos sobre os quais escrevi há pouco, a propósito de "desinquieto", ou seja, o aparecimento de um "des" enfático, mas perfeitamente dispensável e até ilógico.
Mas a minha colega explicou-me que, na verdade, a intenção pedagógica subjacente ao uso dessas construções (como "há três pratos com trigo para três tigres"), no contexto da educação pré-escolar, é precisamente "destravar" a língua das crianças, porque se pretende ajudá-las a articular os sons em causa com maior destreza.
O passo seguinte, uma vez que continuámos sem ter a certeza sobre a validade do termo "destrava-línguas", foi consultar o Ciberdúvidas. Desta vez, porém, aquela excelente ferramenta não me ajudou: porque explicava que trava-línguas era mais correcto do que "quebra-línguas", mas não mencionava, de todo, "destrava-línguas".
Resolvi, então, consultar a Mordebe. Nessa base de dados, o termo "destrava-línguas" não existe. Será mesmo, como eu pensava, uma invenção do povo? É bem provável. Mas nada a impede de vir a ser dicionarizada. Afinal, se "desinquieto" já é uma palavra portuguesa, por que razão esta outra não há-de ser?!...

12 abril 2007

“Uma metáfora é quando...”

Qual é o professor que nunca se queixou de que os seus alunos iniciam a explicação de um conceito com aquele nefasto "é quando..." ? Julgo que todos se lamentam do mesmo...

No entanto, há outra pergunta a fazer: quais, desses professores, é que se deram ao trabalho de esclarecer os alunos, de lhes fornecer instrumentos e técnicas para que eles saibam produzir uma explicação aceitável, construir uma definição minimamente rigorosa de uma ideia? Se calhar, muito poucos...
Talvez devêssemos, então, começar por alertar os alunos para o facto de "é quando" não ser uma forma aceitável de começar a definição de um conceito, explicando porquê – ANTES de lhes pedir que definam este ou aquele termo.
Depois, seria bom que os orientássemos, mostrando-lhes que definir um conceito implica, antes de mais, encontrar um outro termo que possa substituir o primeiro e que tem forçosamente de pertencer à mesma classe gramatical. Peguemos numa metáfora, por exemplo, que antes de ser qualquer outra coisa é um substantivo. Podemos então começar por dizer que se trata de um “recurso estilístico” e só a partir daí devemos construir o resto (“um recurso estilístico através do qual determinada realidade é referida ou caracterizada de forma simbólica, etc....”).

Acredito, sinceramente, que os alunos que começam por explicar seja o que for com a expressão “é quando” não o fazem por entenderem que se trata de uma boa maneira de introduzir a explicação, mas por não saberem como iniciar a frase de um modo mais rigoroso e eficaz.

11 abril 2007

Afinal, o que é ser "desinquieto"?

Curioso, como escolhemos suprimir uns prefixos - como em (com)portar-se - e acrescentar outros a certas palavras que deles não precisam.

É com relativa frequência que ouvimos alguém dizer que determinada criança é "desinquieta", quando, na realidade, inquieta seria o termo adequado. Para quê o des-?
Para dar mais ênfase à ideia de que se trata do oposto de quieto? Talvez. Mas acontece que o segundo prefixo, logicamente, anula o significado do primeiro (in-), que já exprimia a ideia de contrariedade. Então as pessoas que escolhem a versão aparentemente "reforçada" do adjectivo, "desinquieto", estão afinal a dizer o contrário daquilo que pretendem, pois desinquieto seria, no fim de contas, o mesmo que quieto!

Todavia, resta dizer que esta aparente redundância, que afinal é um contra-senso, tem sido tão usada (pelo menos num registo de língua familiar/popular), que a palavra "desinquieto" até já foi consagrada pelos dicionaristas, que descrevem o seu significado como "o mesmo que inquieto".
Não é que o povo é mesmo quem mais ordena?!

10 abril 2007

(com)portar-se

Quando dizemos às crianças (ou a adultos) que se "portem bem", estamos na verdade a dizer que se devem comportar convenientemente.

Sempre me intrigou esta espécie de truncamento ao contrário, que é o que me parece que aconteceu, quando se passou de comportar-se a portar-se. Afinal, qual é a lógica de pensar que "portar-se", em termos de comportamento, vem de portáre, que em latim significava levar ou transportar? As pessoas que se "portam" assim ou assado não se transportam nem se fazem transportar...
Para mim, faria mais sentido concluir que simplesmente se abreviou o verbo comportáre, que também vem do latim e queria dizer reunir, acumular. Ainda hoje, comportar é mais ou menos o mesmo que "conter, apresentar em si", logo, enquanto verbo reflexo, significa manifestar determinadas atitudes, agir. Até porque, em boa verdade, dizemos coisas como "portou-se mal" num discurso informal, mas tendemos a repor o prefixo quando queremos falar de forma mais cuidada ("comportou-se mal").
Isto é mera especulação, dado que não consegui chegar a uma conclusão rigorosa e definitiva através das fontes que consultei (O Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de José Pedro Machado, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências e a Infopédia da Porto Editora). Mas é da especulação que nasce o diálogo e, neste momento, estamos aqui com falta de diálogo!

09 abril 2007

Pudermos ou podermos?

Muito boa gente confunde as flexões poder(es/mos/em) e puder(es/mos/em) do verbo poder.

A primeira pertence ao Infinitivo Pessoal e usa-se sobretudo com preposições como para ou de, por exemplo em frases do tipo: "Para poderem escrever bem, devem ler muito!" ou "O facto de podermos sair mais cedo não obriga a que o façamos."
A segunda corresponde ao Futuro do Conjuntivo e usa-se com as conjunções se e quando, em orações subordinadas condicionais ou temporais, como nestas frases: "Se puderem, leiam este livro durante as férias", ou "Quando pudermos, iremos ter contigo."

Para as distinguir, convém notar que a diferença não é apenas visível (levando à tal hesitação entre escrever a forma verbal com o ou com u), é também audível: nas flexões que se grafam com u (as do Futuro do Conjuntivo), o som do e é sempre aberto ("é"). Se o som do e, pelo contrário, for semi-fechado ("ê"), é garantido que a forma em causa se escreve com o.
Simples, não?

05 abril 2007

Ele não interveio, mas seria bom que tivesse intervindo!

É com bastante frequência que se ouvem as expressões “ele interviu” ou “tinha intervido”, em vez das respectivas formas correctas “ele interveio” e “tinha intervindo”.
Poderia mencionar aqui outras formas verbais, mas são estas que mais frequentemente nos ferem a sensibilidade.
O verbo intervir deriva do latim intervenire e é composto por dois elementos: o verbo vir, que ocupa a segunda posição na palavra, e o elemento inter, que corresponde ao nosso “entre”, tendo como significado original “vir ou colocar-se entre”.
Dita a regra gramatical que os verbos compostos seguem o paradigma de conjugação do seu verbo base. Neste caso, a 3ª pessoa do singular do Pretérito Perfeito do Indicativo do verbo vir é veio e não *viu e o Particípio Passado é vindo e não *vido (por exemplo: *Ele não tem vido às aulas).
Por conseguinte, as formas correctas do verbo intervir são: interveio e intervindo.

E agora que já intervim a propósito da flexão complexa deste tipo de verbos, gostava que interviessem, apresentando os vossos comentários e sugestões!

04 abril 2007

Quem sabe...

onde colocar duas vírgulas e um ponto para que esta frase passe a estar correcta?

Maria toma banho porque sua mãe disse ela dê-me a toalha.

03 abril 2007

Jogo de construções


A língua é como um daqueles jogos para fazer construções: podemos passar horas a montá-la e a desmontá-la, brincando com as peças todas ou apenas com algumas, combinando-as, desmontando-as e recombinando-as (o corrector do Word acaba de me sublinhar este termo. Qual é o problema?! Já confirmei que existe na Infopédia...!).

Mesmo que a nossa criatividade não seja por aí além, todos inventamos novas palavras à medida que vamos comunicando, quer nos apercebamos disso, quer não. A tal ponto, que, se nos detivermos sobre alguns termos que utilizamos, talvez não saibamos dizer se existem, de facto, na nossa língua. E o facto de estarem ou não consagrados nos dicionários é secundário, desde que todos usemos a mesma “matéria-prima”. Essa é a única condição para que nos entendamos.

Podemos, por exemplo, formar novos advérbios terminados em -mente, como “parvamente”, “digitalmente” ou “arrumadamente”, e qualquer pessoa entenderá o seu significado. Podemos criar novos substantivos com os sufixos -ada ou -ismo (entre tantos outros), como “clicada” ou “chico-espertismo”, que toda a gente perceberá o que queremos dizer. Podemos inventar novos adjectivos com prefixos como a- e des-, como “associal” ou “desfundo”, e ninguém terá dúvidas sobre o seu sentido. Podemos, ainda, formar verbos com -izar ou -ar, como “oscarizar” (que o Jaime já constatou ter sido usado pelo menos numa notícia de jornal!) ou “e-mailar”... enfim! Os únicos limites são a quantidade de “peças” do jogo e a nossa imaginação. Porque, teoricamente, o número de criações possíveis é infinito!

02 abril 2007

“A impressora está meio lenta” ou “meia lenta”?

Quando significa o mesmo que “um pouco”, ou “parcialmente”, a palavra meio é um advérbio e, como tal, não deve ser flexionada em género nem em número, ou seja, meio é palavra invariável, nesses contextos. Assim o afirmam todos os especialistas que dão conselhos a quem tem dúvidas nestas matérias.

O que não explicam (pelo menos ainda não encontrei nenhuma explicação) é por que razão se pode flexionar um outro advérbio muito parecido, que é todo, quando significa “completamente”. Esse é um dos meus problemas existenciais: o facto de não se poder dizer que “a impressora está meia lenta”, quando já é legítimo dizer, por exemplo, que “a impressora está toda suja de pó”...