21 maio 2007

Se as palavras falassem...

Se as palavras falassem, certamente contariam histórias bastante interessantes! Muitas deliciar-nos-iam com o seu percurso de vida!
Viajem comigo pela história de algumas!

A palavra profissional começou por designar alguém que exerce uma determinada profissão, usada por oposição a amador, por exemplo: “Ele tira boas fotografias, mas não é profissional”, ou seja, “não faz da fotografia a sua profissão”.
O significado deste adjectivo estendeu-se a “alguém muito competente numa dada área”, por exemplo: “Ele é muito profissional naquilo que faz, trabalha com bastante profissionalismo”. Verificamos, portanto, a passagem de um adjectivo que não admitia variação em grau (ou é profissional, ou é amador) para um adjectivo que, sendo sinónimo de “eficiente, competente”, já admite flexão em grau: “muito/pouco profissional”.
Um percurso bastante interessante têm também os derivados pelo sufixo -aria, dos quais destaco a palavra ourivesaria, cujo significado original é: “arte, actividade do ourives”, por exemplo, na frase “Ele trabalha em ourivesaria há mais de 10 anos”.
O segundo significado surge em sequência do primeiro, quando se cria um local para exercer essa actividade. Temos, então, um sentido locativo, patente em “Comprei este anel na ourivesaria do centro comercial.”
E se considerarmos frases como “Ela guardou toda a sua ourivesaria no cofre, antes de ir de férias”, então estamos perante um sentido colectivo, que exprime “o conjunto dos objectos em ouro e prata”.
As palavras não falam, mas a sua história fala por elas!

7 comentários :

Maria disse...

Na blogosfera corre uma cadeia de atribuição de "prémios". Primeiro foi o Thinking Blogger Award" e agora são os "Mêmes", cujo significado é um pouco filosófico e obscuro. Isto tudo para explicar que atribuí ao vosso blog um dos ditos "Mêmes". Visito-vos há pouco tempo, mas como interessada no estudo da língua portuguesa que vejo em cada dia cada vez mais maltratada, penso ser este vosso cantinho de todo o interesse para todos os que escrevem por aqui (e não só).
Um abraço

S. Leite disse...

Obrigada, Dulce :) E volte sempre.

Anónimo disse...

Isto faz-me lembrar a palavra "desporto" que também era usada como contrário a "profissional". Era e ainda é frequente dizer "eu faço isto por desporto", que é como quem diz, "não é para ganhar dinheiro".
Sendo assim, falar de "desporto profissional" não será um tanto disparatado?

S. Duarte disse...

Dulce, obrigada pelos "Mêmes"! O nosso "óscar" mais precioso é a presença constante dos nossos leitores e comentadores!
Deprofundis, muito interessante a abordagem do "desporto". Obrigada a todos!

Anónimo disse...

E como estas devem haver muitas mais :) Bj

Anónimo disse...

A propósito de "ourives", lembrei-me de "joalheiro". O que vai, mutatis mutandis, dar ao mesmo.
E a propósito de "joalheiro", vem o seu feminino "joalheira".
Porém, é vulgar ver-se nos talhos "joalheira de porco". Será que os talhantes em causa sofrem de reumatismo nos "joalhos"? Ou será que a peça exposta vende jóias?
E a talho de foice, vem a palavra "costoletas", o que também vi nos restaurantes. E isso faz-me lembrar que há anos, numa queda a cavalo, parti uma "costola".
E fico-me por aqui.

S. Leite disse...

Hehe! Mas que ninguém embirre com as fevras, nem com as fêveras, pois são variantes legítimas de febras :)