26 novembro 2009

Aos alunos que foram avaliados hoje

Eis o texto prometido.
Mas, claro, para que faça sentido colocá-lo aqui, deixo-o com alguns erros, para descobrirem... já que houve tantos e tão entusiasmados comentários ao desafio anterior...!



Informamos que, a partir do início do mês de Outubro, as crianças deverão chegar imperetrivelmente até às nove e meia, afim de evitar distúrbios nas actividades e desiquilíbrios na formação das crianças. Os atrasos poderão ser comunicados telefonicamente, mas os pais estão proibidos de entrar nas salas após a hora estipulada.
Embora estejamos, à priori, sempre ao dispôr dos pais, convém que nos avisem através de um telefonema que fazem tensão de nos ver, para pudermos dispender do tempo que com certeza será necessário para uma conversa. Assim, será possível definirmos um horário adquado, em que não haja simultaniedade entre o atendimento e a assistência aos educandos. Se aparecerem de repente, e sem querer subestimar os vossos motivos inadiáveis ou a vontade espontânea de resolver alguma questão, será mais provável que o encarregado e o respectivo cônjuge tenham de aguardar. Em caso algum as crianças serão deixadas sózinhas enquanto a educadora conversa com pais, avós ou outrém.
Se os vossos filhos forem alérgicos a algum alimento, como côco, amendoins, pêra, perú, etc., agradecemos que nos comuniquem por escrito. Se houver algum desfazamento entre as vossas instruções e o menú diário servido na escola, a responsável pela cozinha encarregar-se-á de fazer os devidos ajustes.
No dia desassete, salvo se acontecer algum precalço, e se as núvens o permitirem, iremos observar o vôo das aves migratórias ao parque da cidade. Se puderem, as crianças devem levar binóculos, além de chapéu e óculos de sol. Porém, agradecíamos que não mandassem objectos supérfluos, como jogos electrónicos.
Em caso de dúvidas ou perguntas, não exitem em contactar-nos, pois encontramo-nos à vossa disposição.

25 novembro 2009

Para os alunos que vão ser avaliados amanhã...

... aqui fica um texto com erros gramaticais, para treinarem. Quais são?




Muitos de nós concerteza já fomos assedeados por mendigos, que de repente surgem a pedir-nos uma esmola. A maioria tem um ar miseravél e enquadra-se no estereótipo do sem-abrigo, embora hajam enúmeros pedintes bem vestidos, que não se adeqúam à imagem pré-concebida construida pela experiência. Se dependesse de nós deixar-mos de os encontrar, quase todos obtariam por nunca os vêr. Mas se todos trouxessemos connosco uma moeda para despensar, um bolo, ou uma sandes, seríamos todos mais felizes.

24 novembro 2009

Os crioulos dos séculos XX/XXI






Os crioulos, como sabemos, nasceram da necessidade de comunicação por parte de pessoas que falavam línguas diferentes e pretendiam, essencialmente, estabelecer trocas comerciais. Derivam de códigos linguísticos simplificados e mistos (conhecidos como pidgins), ou seja, baseados nos idiomas dos intervenientes na sua criação.
Mas hoje em dia, os crioulos ainda estão na moda, apesar de o inglês ser a língua franca do mundo dito civilizado. São criados pelas pessoas que traduzem os textos das instruções de produtos comerciais fabricados em série, sobretudo os mais baratos e/ou de qualidade duvidosa, e cingem-se à comunicação escrita.
Nos crioulos desse tipo aparentados com a língua portuguesa, os acentos gráficos estão nas palavras erradas ou simplesmente não aparecem, há palavras que são abreviadas ou simplificadas, o ç é frequentemente substituído por um c, a ortografia aproxima-se da de outras línguas cujo léxico seja semelhante (normalmente, as línguas que o tradutor domina melhor) e a sintaxe pode apresentar particularidades bizarras, que por vezes dificultam a interpretação da mensagem.
O exemplo da imagem ainda apresenta semelhanças muito fortes com a língua portuguesa, mas, nos casos mais sofisticados, a boa utilização do produto exige a aprendizagem prévia do crioulo em que as instruções estão escritas, apesar de, à primeira vista, parecer português!

20 novembro 2009

Qual a forma correcta?




O desafio de hoje é identificar a palavra grafada correctamente, em cada par:

condicente / condizente
cônjuge / cônjugue
podesse / pudesse
carrocel / carrossel
despoletar / despultar
magestoso / majestoso
obcessão / obsessão
perscrutar / prescrutar
precariedade / precaridade
resplandecente / resplandescente
subestimar / substimar
torácico / toráxico




17 novembro 2009

Cuidado com a escrita!


No livro que estou a ler, O Priorado do Cifrão, de João Aguiar, aparecem, de vez em quando, algumas falhas ortográficas. Nesse sentido, aproveito, não para criticar a editora, mas para chamar a atenção para essas palavrinhas que, pelos vistos, pregam rasteiras aos mais capazes:

Página 103: «foi guardar a vassoura na dispensa»
A dispensa é o acto de dispensar. O lugar onde se guardam víveres é a despensa.

Página 104 (e outras): «Não tardariam as perseguições aos herejes».
A palavra hereges escreve-se com g.

Página 176: «Mesas com tampo de formica»
A formica (palavra grave) é uma doença. A resina sintética que se usa para revestir móveis chama-se fórmica – palavra esdrúxula.

Página 179: «Mas que não tentasse tomá-lo por tótó»
Em português, as palavras não podem ter dois acentos agudos, porque não têm mais do que uma sílaba tónica. Totó, como popó e bebé só leva acento na última vogal, a que é pronunciada com mais intensidade.

Página 242: «tombava uma moínha fria» (e p. 243)
Moinha, tal como rainha e bainha, não leva acento agudo no i tónico que não forma ditongo com a vogal anterior, porque este é seguido do dígrafos nh.

Páginas 251: «Eugénio Graínha» (e p. 254)
Este apelido também não deve ser escrito com acento agudo no i (portanto, Grainha), pela razão enunciada atrás.

Página 296: «Julgo que para muito espanhois é uma questão estética»
Espanhóis, por enquanto, ainda leva acento agudo no o. Porque o ditongo tónico é semiaberto, “ói” (como em caracóis), e não semifechado, “oi” (como em pois).


12 novembro 2009

Dicas para a comunicação eficaz

Porque a comunicação não envolve apenas o uso da língua, hoje resolvi deixar-vos um contributo diferente...

ANTES de comunicar, certifique-se de que:

- tem algo novo e interessante para dizer

- há alguém interessado em ouvi-lo

- consegue arranjar maneira de interessar os desinteressados, sobretudo se constituírem a totalidade dos ouvintes

- o tempo que leva a falar não é superior ao tempo (e paciência) que os ouvintes têm para lhe dispensar

- a sua aparência não vai distrair o público: não há nódoas na sua roupa, não calçou um sapato de cada cor, nem tem restos de pastel de nata nos dentes


DURANTE a sua comunicação, veja se:

- fala em vez de ler (gosta de ouvir os outros lerem por si quando o texto está à sua frente?)

- não volta as costas ao público (a menos que tenha asas ou cabeça de coruja)

- não fica mais do que 10 segundos em silêncio (na verdade, 5 segundos já é muito!)

- o seu tom de voz é audível (para quem está no fundo da sala, não para si)

- não há mais do que 2 pessoas em cada 20 a bocejar ou a dormir

- as pessoas acordadas não esboçam esgares de impaciência ou incompreensão


DEPOIS da comunicação, não se esqueça de:

- deixar bem claro que chegou ao fim (se ainda estiver alguém a ouvi-lo, claro)

- se oferecer para responder a perguntas da assistência

- deixar algo com que o público possa recordar a sua comunicação no futuro (por boas razões, entenda-se)





05 novembro 2009

Imperetrivelmente

Ora aqui está um advérbio relativamente comum na oralidade, mas que leva muita gente a hesitar (ou a enganar-se), quando passa para a escrita.
A dúvida reside, essencialmente, nas duas sílabas que se seguem ao prefixo im-, pois no discurso oral costumamos "comer" alguns sons (sobretudo vogais fracas, como o "e" átono) e trocar outros - por exemplo, confundindo as sequências pre- e per- .
Assim, e porque dizemos e ouvimos qualquer coisa como "imprtrivelmente", quando pretendemos escrever a palavra sabemos que falta ali a letra "e" algures entre as consoantes, mas não temos a certeza do lugar exacto, nem da quantidade de vogais que estão em falta. Então poderemos arriscar:
"imperetrivelmente"...?
Por hipercorrecção, a tendência é a de colocar "és" a mais na grafia.
No entanto, o advérbio vem do adjectivo impreterível, que talvez se ouça pouco, e cujo significado é «que não se pode preterir», ou seja, «que não se pode adiar». Aqui, talvez vejamos uma relação entre este adjectivo e o nome pretérito, que designa precisamente o passado. Portanto, escreva-se IMPRETERIVELMENTE - sem medo, sem dúvidas, sem risco!

03 novembro 2009

Scanear?!

Todos os dias me surpreendo e isso, à partida, é bom.
O problema é que nem tudo o que me surpreende é bom, por isso talvez devesse dizer que todos os dias me admiro com algo que vejo.
E há uma editora que, ultimamente, tem sido a causa de boa parte da minha perplexidade. Na sua base de dados em linha (expressão paradigmática da débil recusa, por parte de alguns portugueses mais "cotas", de cair no estrangeirismo fácil, que espero seja entendida pelos leitores), apresenta por vezes informações caricatas e inesperadas, para não dizer duvidosas... pelo menos por enquanto.
Há dias, descobri, de boca aberta, que o verbo scanear já lá constava, todo conjugadinho, da primeira à última flexão: eu scaneio, tu scaneias, ele scaneia...; eu scaneei, tu scaneaste, ele scaneou... e por aí fora. Lindo!
E para quem não saiba o que significa esta nova aquisição no nosso léxico, a definição aparece no dicionário de língua portuguesa: significa converter texto ou imagens, através de um aparelho que lê os dados em papel, em informação digital, que poderá ser consultada e usada no computador. Usa-se no âmbito da informática, mas não necessariamente em registo informal ou familiar, pelos vistos. Ao que parece, pode aparecer em relatórios, em documentos oficiais, em publicações, etc., porque será um legítimo sinónimo de digitalizar.
O aparelho com o qual o verbo está relacionado lá está igualmente dicionarizado na sua forma gráfica original: scanner (mas sem o itálico!) . Quer isto dizer que o verbo poderia ser scannerizar ou, aportuguesando a grafia, scanerizar, usando-se a combinação entre SCANNER + -IZAR. Inclusivamente, há quem prefira scanar e quem diga, com bom humor, sacanear...
Ora, pergunto-me, por que razão a editora não consagrou todas essas variações? Porque fez uma recolha rigorosa de dados e concluiu que a forma escolhida é usada com mais frequência do que as outras? Ou porque não lhe apeteceu? Trata-se de uma pergunta de quem tem curiosidade em perceber como é que estas decisões são tomadas!