28 junho 2011

Desafio ortográfico

Qual a forma correcta?

À priori ou a priori?
Aselha ou azelha?
Corropio ou corrupio?
Constróem ou constroem?
Fôr ou  for?
Indeminização ou indemnização?
Paralelepípedo ou paralelipípedo?
Quadruplicar ou quadriplicar?
Pejorativo ou perjorativo?
Reinvindicar ou reivindicar?


(Nota: nada disto tem que ver com o Acordo Ortográfico...)

22 junho 2011

ACORDO ORTOGRÁFICO: contra e a favor

Eis uma síntese dos argumentos contra e a favor do acordo, para reavivar a polémica e ver se aparecem mais comentários neste blogue...

CONTRA O A.O.

1. O Acordo falha redondamente o objectivo de criar uma norma única, porque a ortografia da língua portuguesa continua a ser diferente entre Portugal e o Brasil (vejam-se facto/fato, planejar/planear, registo/registro, perspectiva/perspetiva, recepção/receção, Amazónia/Amazônia, etc...).

2. O A.O. traz custos elevados e desnecessários a inúmeras instituições públicas e privadas, desperdiçando o dinheiro dos contribuintes em tempo de crise.

3. O inglês, o árabe, o francês e o espanhol, que são das línguas mais faladas do mundo, nunca precisaram de acordos ortográficos para garantirem a sua importância mundial e cada uma tem mais de 10 variantes! Então para que precisamos nós dessa falsa e inútil unificação?

4. Portugal é um Estado independente e a língua portuguesa é indissociável da nossa identidade como portugueses. Ceder a vontades estrangeiras é sacrificar a nossa língua aos interesses dos outros.

5. Se continuarmos a seguir o critério fonético, por oposição ao etimológico, iremos descaracterizar por completo a nossa língua. Pouco faltará para escrevermos “oje”, “naxer” e “keres”...

6. Além de desnecessária e antieconómica, a mudança vai gerar insegurança: muitos adultos vão sentir que têm de voltar à escola para aprenderem de novo a escrever...

A FAVOR DO A.O.

1. Não se trata de uma mudança dramática na ortografia, como certos opositores pretendem, mas da alteração gráfica de apenas 1,6% das palavras usadas na variante PE e de 0,5% na variante brasileira.

2. Uma única ortografia facilita a aprendizagem no ensino do português numa perspectiva internacional.

3. O A.O. permite que um único documento, numa grafia única, represente todos os países da CPLP internacionalmente.

4. A criação de uma norma única põe fim à situação (exclusiva do português, entre as línguas europeias) de haver duas normas ortográficas oficiais.

5. O A.O. tem contribuído amplamente para a criação e o aperfeiçoamento de uma série de recursos fundamentais da língua portuguesa que até agora eram inexistentes.

6. Os estudantes portugueses têm hoje, como se sabe, sérias dificuldades na escrita, que comprometem o seu sucesso escolar. A aplicação do A.O. poderá contribuir para reduzir o número de erros ortográficos que cometem.

20 junho 2011

A personagem ou o personagem?

A palavra personagem tem no étimo o mesmo vocábulo latino que a palavra pessoa: persona. Acontece, porém, que ao contrário de pessoa, que é do género feminino e foi herdada do latim, o termo personagem (personne + sufixo -age) terá entrado na língua portuguesa por via do francês. Ora, em francês, ao contrário do que acontece em português, muitos  nomes acabados em -age, como massage, paysage, fromage, voyage, heritage, são masculinos.
Assim se justificará que em português o termo personagem possa, ainda hoje, assumir este género – sobretudo quando designa alguém (real) que se destaca pelas suas qualidades ou pela sua posição social – embora possa também ser do género feminino, à semelhança de pessoa, e tal como outros nomes terminados em -agem, sejam eles provindos do francês (massagem, viagem, passagem, garagem,  “chaufagem* – esta é a brincar!), sejam derivações por sufixação, como contagem, escovagem, plumagem e raspagem. Assim, as personagens das narrativas de ficção podem ser homens ou mulheres, exactamente como as pessoas (pessoa, personagem, criança, vítima, etc. são chamados nomes femininos sobrecomuns), não sendo necessário falar "do personagem" de um romance apenas por ser do sexo masculino.

Deste modo, e ainda que alguns de nós tenham ouvido os professores dizerem que os nomes terminados em -agem são todos femininos em português, pelo menos este (personagem) será um caso excepcional, uma vez que pode assumir os dois géneros.

* Chauffage é palavra francesa que os portugueses adoptaram para designar o aquecimento ou ventilação nos automóveis, mas que no entanto suscita muitas dúvidas na pronúncia e na escrita, variando entre “chofage”, “chofagem”, “sofagem”, “solfagem” e sabe-se lá que mais... nenhuma delas está atestada em português, tanto quanto pude apurar.

16 junho 2011

Ler +


  Sinceramente, não sei pronunciar-me sobre o Programa Ler +. É fácil louvar os objectivos de fundo, mas também é fácil criticar falhas na concepção ou na metodologia da iniciativa.

O que me parece de enfatizar é a necessidade de pais, educadores e professores porem as crianças (e os adolescentes) a ler textos de qualidade (dentro ou fora do programa), para que vejam nos livros lugares únicos de refúgio e lazer, companheiros de viagens enriquecedoras e inesquecíveis, amigos silenciosos insubstituíveis, que os ajudam a encontrar respostas e soluções para os problemas e desafios do quotidiano, mestres brandos mas firmes, que lhes dão as melhores referências para o bom uso da língua.
E aqui faço um sublinhado: numa sociedade tecnológica como é a nossa, em que entre os estímulos essencialmente visuais abundam textos mal escritos, que são precisamente aqueles que mais se "consomem" (pois circulam livremente na net, sem crivos de qualidade, ou são as mensagens escritas pelos nossos amigos e familiares), as referências ortográficas e sintácticas dos jovens são predominantemente as piores. Como resultado, escrevem mal, não por não lerem (acho que nunca se leu tanto como se lê hoje), mas por não lerem textos de boa qualidade linguística. Por isso é tão importante pegar na mão das crianças e conduzi-las para esse mundo surpreendente que está dentro de cada livro, ler para elas de uma forma expressiva e contagiante, ajudá-las a encontrar os livros que mais lhes agradam, os géneros com os quais se identificam, os temas que mais as entusiasmam - sempre sob o lema da diversidade, que é fundamental para se achar o gosto próprio, e depois deixá-las nesse mundo, à sua vontade, sem horas de regresso. Porque, afinal de contas, os livros são um dos poucos lugares aonde as crianças ainda podem ir sozinhas sem perigo de serem maltratadas!