26 novembro 2013

Fórmulas de tratamento formais... uma espécie em extinção?


Há um fenómeno que observo com curiosidade. As cartas formais e os ofícios que vêm sendo substituídos por mensagens de correio electrónico (vulgo e-mail) passaram, quase todas, a ter uma fórmula de tratamento nada formal. Em vez da tradicional saudação cordial, do tipo "Exm.º Senhor Dr. Fulano de Tal", ou "Prezada Dr.ª Tal", a maior parte das pessoas (segundo a minha experiência, claro) passou a escrever, muito simplesmente, "Bom dia", ou "Boa tarde", ou "Boa noite", sem mais.
Isto é estranho, porque não há motivo para eliminar a forma de tratamento introdutória apenas porque o suporte é informático, em vez de ser o papel, e mais estranho ainda porque não é garantido que o destinatário lerá a mensagem na mesma parte do dia em que ela foi escrita, pelo que o "Bom dia" pode ser lido à noite e o "Boa tarde" de manhã.
O que é que aconteceu às boas maneiras das cartas formais? Onde está a cerimónia de antigamente, no tratamento de pessoas desconhecidas? Que boa razão há para deixarmos de ter aquele trabalho mental saudável, a pensar sobre qual a forma de tratamento mais adequada para nos dirigirmos a este ou àquele indivíduo com quem não temos confiança nem intimidade?
Penso que, cada vez mais, as pessoas têm dificuldade em fazer uso de registos linguísticos distintos, conforme a situação e o interlocutor. Tendem a saudar toda gente com um familiar "Tudo bem?", esquecendo-se de que por vezes nem o momento nem a pessoa a quem se dirigem justificam tal familiaridade. Até há quem escreva "Boas" no início de um e-mail, mesmo quando este é dirigido a colegas desconhecidos!... Não concordo. Uma coisa é a simpatia, outra a falta de noção do que é apropriado.
E já todos terão notado que os "cumprimentos" finais também são cada vez mais substituídos por "beijinhos" virtuais, ou até por "bjs". Qualquer dia, até as mensagens formais de homem para homem cairão nesse ridículo. Mais vale não escrever nada no fim, senhores! Ou então deixar que a mensagem termine sobriamente com a nossa assinatura predefinida: nome, cargo, empresa, morada, telefone, etc. Sempre é menos mau.







08 novembro 2013

O novo programa do Ensino Secundário




Já leram a proposta de Programa de Português do Ensino Secundário que o Ministério da Educação e Ciência deu a conhecer à comunidade esta semana?

A Presidente da Associação de Professores de Português considera que se trata de um "retrocesso", uma vez que a literatura volta a ter um lugar de destaque, e adverte que isto não será profícuo para os alunos.
Gostaria de convidar os leitores a utilizar os comentários como espaço de debate, divulgando as suas opiniões sobre o assunto.
Pessoalmente, nada tenho contra o estudo da literatura no Secundário, mas parece-me que, de facto, com este programa poderá haver um retorno estéril ao tempo em que os alunos decoravam matérias que nada lhes diziam a respeito das obras e autores, para poderem passar nos testes e esquecer tudo logo a seguir. Mais do que redefinir conteúdos, importa rever as metodologias. Mas aí não há programas oficiais  que orientem os professores. Cada um é responsável pela forma como dá as aulas, fazendo da sala de Português um lugar onde os estudantes aprendem com interesse ou um espaço árido onde eles apanham "uma grande seca".