05 março 2014

"Ensino à distância" ou "ensino a distância"?


Ontem tive a primeira aula de um curso de formação em que o contacto entre os professores e a turma não será presencial, mas feito através da tecnologia ao nosso dispor. Sim, estou a falar de ensino à distância... ou será que devo dizer, como agora se usa mais, ensino a distância?

Apesar de a expressão com à aberto ser muito mais frequente "no meu tempo" (que já lá vai, infelizmente), nos últimos anos começou a levantar-se a dúvida, passou a haver hesitação e depois a ouvir-se, cada vez mais, a forma "ensino a distância", sem contração entre a preposição a e o determinante feminino singular a.

Quem prefere esta última forma encontra um bom esclarecimento no Ciberdúvidas, da autoria de Carlos Rocha. Nele se explica que "a distância" é a forma preferível quando esta não é explícita(por exemplo, na expressão "ensino a distância", uma vez que não sabemos exatamente qual é essa distância); ao passo que a forma "à distância" deve ser reservada para os contextos em que se especifica a que distância as partes se encontram (por exemplo, na expressão "à distância de um clique").

Porém, o autor do artigo adverte-nos para duas ressalvas a fazer:

a) é admissível e conveniente usar a expressão "à distância", mesmo quando esta não é explicitada, se houver a possibilidade de equívoco na interpretação. Por exemplo, se usarmos a combinação "ensinar a distância", damos a entender, erradamente, que a distância é aquilo que se ensina. Nesse caso, já será preferível dizer e escrever "ensinar à distância".

b) a locução "à distância" está consagrada pelo uso, tal como outras do mesmo género, como "à toa", "à nora", "à frente", "à tarde", "à medida", "à desgarrada", "à capela", etc.

Por isso, Carlos Rocha conclui que, embora se possa sustentar que "ensino a distância" é a expressão mais correta, não se pode dizer que a variante "ensino à distância" esteja errada. Aliás, ele próprio acaba por recomendar esta última, o que não deixa de ser curioso.

Ora, quem prefere usar a forma "à distância" tem ainda, neste esclarecimento de Regina Rocha, também disponibilizado no Ciberdúvidas, três boas razões para argumentar em prol dessa opção. De facto, sendo uma expressão há muito cristalizada pelo uso e tratando-se de uma locução adverbial que supõe um complemento implícito ("ensino à distância" implica que é feito à distância que fica entre o professor e os alunos), não há motivo para preferir a forma "a distância" (que nem sequer tem sustentação nas gramáticas). Repare-se em locuções  semelhantes, como "(desenho) à vista", "procedimento) à revelia", "(conta) à ordem", que pressupõem igualmente o complemento "de alguém" e se usam com à e não a.

Posto isto, eu vou continuar a dizer, como diria no meu tempo, que estou a fazer uma formação à distância... e vocês?