27 fevereiro 2015

Infligir e não "inflingir"

   Gosto de acompanhar os acontecimentos mais recentes lendo, todas as manhãs, lendo o "Expresso curto" do Jornal Expresso. Hoje, porém, não pude deixar de parar de ler para vir aqui lembrar a todos os interessados como se deve dizer e escrever o verbo infligir, pois o erro que me saltou à vista num dos parágrafos do texto* recordou-me que se trata de um deslize frequente entre portugueses. A minha intenção não é pôr em evidência a falha do autor do texto (é humano e eu também: todos temos "telhados de vidro"...), mas alertar os leitores deste blogue para a facilidade com que certas palavrinhas nos podem enganar.
 
   Provavelmente, é mais um caso de contaminação fonética, pois o núcleo da primeira sílaba é constituído por uma vogal nasal ([ ĩ ]), o que leva muitos falantes a nasalisarem, por influência do contexto, a vogal da sílaba seguinte. Esta é, então, pronunciada como [ f l ĩ ] em vez de [ f l i ], à semelhança do que sucede com insosso, que tanta gente diz "insonso". Para mais, existe a palavra (parónima) infringir (que no entanto significa algo diferente: "quebrar, trangredir, violar uma regra"), essa sim com duas vogais nasais seguidas, o que pode causar alguma confusão entre as duas.

   Fica, então, a advertência, a lembrança ou o alerta: infligir é que está certo, "inflingir" está errado!



* Por cá, está longe de terminar a polémica a propósito da gaffe de António Costa, que hoje é destaque na imprensa nacional (capa do i, do DN, do Público). Destaco as opiniões, à esquerda e à direita, de Daniel OliveiraHenrique Raposo, no Expresso Diário. Se é certo que a direita está a usar o caso o mais que pode para inflingir danos aos socialistas, não o é menos que o próprio Costa quanto mais se tenta desenvencilhar do nó que crioumais enleado parece ficar. Ele diz que está perplexo. Nós percebemo-lo. Também estamos. (Martim Silva, "Expresso Curto", 27/02/2015, acessível em https://www.facebook.com/jornalexpresso)

16 fevereiro 2015

O que é um "catrapázio"?



   Curiosamente... NADA!

   Confesso que fiquei surpreendida, ao verificar isso mesmo, nos dicionários que consultei. Porque já muitas vezes ouvi dizer esta palavra e presumi que o significado fosse "cartaz muito grande". Admito que soava a corruptela, mas são tantas as corruptelas que acabam por consagrar-se pelo uso, que me pareceu o caso provável desta.
   Afinal, não existe mesmo. O que de mais próximo se pode utilizar é cartapácio, vocábulo erudito, que designa um livro grande, antigo, um alfarrábio. Ora, não é nada disto que pretende quem gosta de falar de "catrapázios" escarrapachados nas paredes e nos muros, como aquele a que eu queria referir-me hoje. Acabei por dizer «cartaz gigante», que não tem metade da graça... E suspeito que muito boa gente nem teria desconfiado do mau português, caso eu tivesse optado por empregar aquela sugestiva combinação de sons, afinal "proibida".
   Talvez possamos começar a usar "catrapázio" com tanta frequência, que a palavra seja finalmente reconhecida na língua portuguesa, o que me dizem?!