23 agosto 2017

Quem tem medo dos parónimos?

Eis o nosso mais recente livro:  Mais pares difíceis da língua portuguesa.



Dando continuidade ao primeiro volume, apresentamos outros 270 pares de palavras que os falantes de português tendem a confundir, uma vez que se trata de parónimos, isto é, de termos semelhantes na grafia e na pronúncia, com significados bem distintos. Por ordem alfabética, a diferença entre cada par é explicada por meio de definições e exemplos. São tratados, por exemplo, estes termos:

arrestar / arrostar
complementar / suplementar
diretiva / diretriz
encadear / encandear
especificar / explicitar
ficcional / fictício
prático / pragmático
quantidade / quantia
regular / regularizar
ruço / russo
sagrar / singrar
temerário / temeroso
voracidade / voragem

Esperamos que este pequeno contributo seja útil a muitos leitores e utilizadores da língua portuguesa por esse mundo fora!


26 maio 2017

Exercício de revisão ortográfica


Para hoje, proponho aos leitores um exercício de revisão de texto: ler e melhorar a ortografia deste excerto do "Expresso curto":


O único ministro das Finanças que ele alguma vez defendeu publicamente foi Jeroen Dijsselbloem, por acaso o presidente do Eurogrupo, que é uma espécie de porta-voz de Schäuble. Mas para os mais distraídos recomendo vivamente a crónica que o embaixador Seixas da Costa escreve hoje no seu blogue “Duas ou três coisas” (e que vai exactamente no mesmo sentido do que escrevo amanhã para o Expresso).
Diz Seixas da Costa: “Só alguma saloiíce lusitana é que acha que a “teoria económica” da Geringonça é vista com admiração nos círculos preponderantes no Eurogrupo. É claro que eles podem achar curiosos os resultados obtidos, mas ninguém os convence minimamente de que tudo não decorre de um acaso pontual. Para eles, trata-se apenas de um "desenrascanço" conjuntural, fruto de alguma acalmia dos mercados, do efeito das políticas temporalmente limitadas do BCE, do salto das exportações (que entendem nada ter a ver com a ação do governo), do surto do turismo (por azares alheios e sorte nossa, como o “milagre do sol”), bem como do "pânico" de PCP e BE em poderem ver Passos & Cia de volta, desta forma “engolindo sapos” e permitindo ao PS surpreender Bruxelas com o seu seguidismo dos ditâmes dos tratado. 

08 maio 2017

Despesas extras ou despesas extra?


Quando me perguntam qual o plural do adjetivo extra, não posso evitar sentir algum desconforto. Quem pergunta quer uma resposta simples e objetiva, que não deixe margem para dúvidas... mas por vezes a resposta é em si mesma uma dúvida. Agora talvez mais do que antes, pois não me lembro de ter dado com esta disparidade há uns anos, quando fiz uma pesquisa sobre o assunto.

Hoje, o Priberam mostra-nos que, enquanto adjetivo, a palavra extra pode ser flexionada no plural, dando o exemplo das "despesas extras".


Por seu turno, a Infopédia diz-nos que extra é um adjetivo invariável, o que significa que não se altera no plural. Depreende-se, pois, que o correto será "despesas extra".

Então, em que ficamos?!

No meu entender, e pela lógica, o plural do adjetivo extra deveria ser "extras", pois não me parece que haja motivo para defender que esta palavra, se entendermos que se formou por truncação a partir do adjetivo extraordinário, seja invariável. No entanto, também podemos entender que na sua origem está antes um prefixo e, como tal, defender que por esse motivo o adjetivo também é invarável, à semelhança do que sucede com outros os prefixos (por exemplo, mini, hiper, super, etc.), mesmo quando os utilizamos com a função de adjetivos (como na frase "comprei umas cervejas mini").

Neste, como noutros casos, o uso é que acaba por comandar as regras linguísticas e a verdade é que se nota uma certa resistência de muitos falantes quanto à utilização da forma flexionada extras - a menos que seja como nome. Isto é, muitas pessoas dizem, sem hesitar, "o carro vinha com muitos extras", mas preferem falar de "horas extra" ou de "despesas extra".
Daí que a Infopédia ateste isso mesmo. Aliás, sempre me pareceu que este dicionário segue mais o uso (é mais descritivo), comparativamente ao Priberam, que é mais conservador e normativo. Posso estar enganada, claro. Mas é a leitura que faço, a partir das minhas consultas a um e a outro.

Então, quando encontramos num e noutro dicionário - como neste caso - informação contraditória, o que devemos fazer?
Bom... depende do tempo que tenhamos. Se há pressa, talvez seguir o nosso instinto e escolher a forma que nos soa melhor. Se há tempo, procurar desempatar, usando uma terceira fonte de consulta!






31 março 2017

Escrever em português correto no Programa "Alô, Portugal", na Sic Internacional


Hoje vou apresentar o meu novo livro em direto, no programa Alô Portugal, na Sic Internacional.
Tenho estado a tentar prever que perguntas o José Figueiras me vai fazer e acabei por redigir uma espécie de guião da entrevista, para me preparar. Aqui ficam as perguntas que imaginei e as respostas que pensei dar, pois é provável que a entrevista real seja diferente!


«Este livro é mesmo sobre escrever TUDO? E o que significa escrever corretamente?»
TUDO, sim, no sentido em que, apesar de serem contemplados “apenas” 20 tipos de texto diferentes, este livro pode ser tomado como uma base, uma referência, para depois aplicar a outros tipos de texto. Digamos que é adaptável a outros géneros, nesse sentido, porque fala de aspetos gerais, além dos aspetos específicos de cada tipo de texto em particular.
Escrever corretamente é de facto aplicar com rigor as regras gramaticais, expressar-se com correção, mas não é só isso. Também significa atingir o objetivo, por exemplo, persuadir o leitor de alguma coisa; respeitar as convenções próprias de cada tipo de texto, como o registo em que deve ser escrito, a estrutura que deve ter, etc.; demonstrar cortesia e respeito para com os destinatários do texto, no sentido de procurar corresponder às suas expectativas. Isso normalmente significa construir o texto de modo a facilitar a compreensão das ideias, mas nem sempre, ou não necessariamente, porque, no caso dos textos literários, o leitor pode não esperar nem desejar que isso aconteça, provavelmente prefere encarar o texto como uma espécie de enigma, de jogo de decifração.
«E o Acordo Ortográfico? Já vi que segue as novas regras… isso significa que é a favor?»
Não, de todo. Eu não sou a favor do AO simplesmente porque não faz aquilo que se propõe fazer, que é unificar a ortografia do português usado no mundo. Não acredito que isso seja possível, já para não entrar na questão de fazer ou não fazer falta. Só se pode dizer que o AO uniformiza a ortografia do português global se concordarmos que os inúmeros casos de dupla grafia são um aspeto aceitável dessa uniformização. Pessoalmente, acho que isso não faz sentido. E foi, no fundo, para frisar que as diferenças permanecem que incluí no meu livro um exercício que consiste em descobrir, num texto de 177 palavras, as 20 palavras que vão continuar a escrever-se de maneira diferente, nas variedades europeia e brasileira (p. 67).
Agora, não sendo a favor do AO, sigo-o. Porque acho é que é um luxo, hoje em dia, uma pessoa recusar-se a seguir o AO, nem todos podem fazer isso. Eu, como professora e como mãe, acho que não posso, porque a minha responsabilidade é ajudar os meus filhos e sobretudo os meus alunos a adaptarem-se às novas regras – porque tenho muitos alunos adultos que aprenderam regras diferentes, tal como nós, e ainda têm alguma dificuldade em escrever o “novo português”. No entanto, as mudanças também não são assim tantas – ao que parece, o AO altera cerca de 1,6% das palavras, em Portugal, e 0,5% no Brasil – e há por aí muitos mitos sobre o AO que levam as pessoas a terem muitas dúvidas porque há supostas “regras novas” que na verdade não existem… Isso leva muita gente a sentir que é contra o AO, sem ter sequer uma ideia exata do que é que muda.
«Quer dar exemplos?»
Sim, há o caso engraçado do cágado, que algumas pessoas ainda pensam que vai tornar-se numa palavra feia, porque se passa a escrever sem acento, o que é mentira! Também não é verdade que os portugueses tenham de escrever facto ou contacto sem o c antes do t. Porque a ideia generalizada é a de que vamos escrever como no Brasil, ou "ceder" à maneira de falar e de escrever dos brasileiros, e isso não é verdade. Aliás, muitas palavras passam a escrever-se de maneira diferente precisamente porque respeitam a pronúncia diferente que elas têm em Portugal e no Brasil – por exemplo recepção, perspectiva, contacto.
«E o espectador… ou espetador?!»
Pois... tal como expectativa e característica, esse é um caso de dupla grafia para Portugal, uma vez que no Brasil não se escreve espetador porque o c é sempre pronunciado. Em Portugal, na norma dita culta, há oscilação na pronúncia da palavra: há quem diga espetador e há quem diga espectador e ambas as formas são consideradas corretas, portanto não é linear que a consoante antes do t seja muda. Quem quiser pode continuar a escrever espectador… mas teoricamente deveria pronunciar a palavra em conformidade, ou seja, dizendo o [k]. Segundo a lógica do AO, não faz sentido dizer espetador e escrever espectador, mas claro que quando se é contra o AO isso faz todo o sentido!
«E no seu livro apresenta esclarecimentos ou apenas exercícios sobre o AO?»
Há exercícios, para que as pessoas possam perceber se têm ou não dificuldades na aplicação das novas regras, e no final há um apêndice dedicado ao AO, com uma síntese do que muda, portanto, com o esclarecimento.
«E os exercícios têm soluções?!»
Têm, sim, todos os exercícios sobre expressão escrita, ou gramática, têm soluções. E não são apenas sobre o AO – seria bom que só tivéssemos dúvidas e cometêssemos erros relacionados com a aplicação das novas regras ortográficas! Infelizmente não é assim… muitas pessoas enganam-se a escrever certas palavras mais “traiçoeiras”, digamos assim (diminutivo, losango, despender, aselha, precariedade…) certas construções frásicas (parecido a ou parecido com? ir de encontro a ou ir ao encontro de? ser devido a ou derivado a?), certas formas verbais (hão-de ou há-dem,  matado ou morto?), têm dificuldade em distinguir palavras parecidas (descriminar/discriminar, reticente/renitente, há cerca/acerca, eminente/iminente…), têm dificuldade em substituir o registo familiar por um registo mais cuidado... e portanto há um pouquinho de tudo, nos exercícios.
No entanto, as propostas de exercício que aparecem após cada tipo de texto não têm soluções. São apenas sugestões de treino.
«Mas não é um livro de exercícios?»
Não propriamente. Os exercícios de gramática aparecem logo no capítulo sobre os erros mais frequentes, para que, antes de começarem a escrever determinado texto, os leitores possam perceber se caem facilmente nas “rasteiras” que a língua nos prega a todos, ou não. Mas eu diria que o livro incide sobretudo nas dicas e nos conselhos para escrever os mais diversos tipos de texto, desde as atas até aos verbetes de dicionário, passando pelas composições, pelas recensões críticas e pelos resumos. Só que, depois de dar um exemplo de cada tipo de texto, também deixo uma sugestão de exercício, para que os leitores possam praticar aquele tipo de texto. À parte disso, muito do conteúdo é sobre o processo de escrita, desde o momento em que decidimos que vamos escrever um texto até ao momento em que fazemos a revisão final.
«A Sara gosta muito de escrever?»
Sim, gosto muito e acho que tentei comunicar um pouco desse gosto aos leitores deste livro, no fundo o que eu gostaria era de contagiar os leitores, para que passassem a gostar tanto de escrever como eu. Não sei se isto parece exagerado, mas sinto que escrever, para mim, é tão importante como respirar. Sinto que não consigo viver sem escrever, porque de facto é algo que não só me dá prazer como me faz falta, para me sentir bem. Até pode não haver ninguém para ler o que eu escrevo – porque nem sempre escrever é comunicar – mas eu preciso de escrever, porque escrever me ajuda a pensar-me, a conhecer-me, e eu procuro levar os leitores a verem a escrita dessa forma, como algo que está ao nosso alcance para podermos viver melhor.
«Em que sentido?»
No sentido em que nos obriga a parar, a refletir, em que nos faz pensar sobre a nossa experiência, sobre o que sabemos e o que nos falta saber, portanto favorece o conhecimento e o autoconhecimento, no sentido em que nos ajuda a organizar as ideias, a estruturar o pensamento, a dar sentido ao que nos vai na cabeça, e também a criar algo novo, porque o que nós escrevemos é único e pode ficar no mundo como um sinal da nossa passagem por ele.
«E acha que isso está ao alcance de qualquer pessoa, ou é preciso ter um certo jeito?»
Claro que o jeito ajuda, quem tem jeito terá menos trabalho e levará menos tempo a atingir bons resultados. Mas o que é interessante nisto é que nem toda a gente que tem jeito para falar tem jeito para escrever… e nem toda a gente que escreve bem determinado tipo de textos é capaz de escrever bem outros tipos de texto diferentes… O essencial, a meu ver, é o entusiasmo, o empenho, a dedicação. O quanto a pessoa quer ser capaz e o que está disposta a fazer para conseguir. E isso pressupõe uma característica muito importante que é a humildade, a noção de que se pode fazer melhor. Quem acha que já escreve bem e não precisa de melhorar normalmente está enganado, porque se aplica o mesmo que se costuma dizer sobre o conhecimento (a célebre fórmula atribuída a Sócrates, “só sei que nada sei”): quem realmente sabe muito tem uma noção mais clara de tudo o que lhe falta saber. Com a arte da escrita é mais ou menos a mesma coisa, quem escreve bem sabe que pode sempre escrever melhor, provavelmente porque também lê muito e não se considera certamente o melhor escritor do mundo, vê sempre outros acima de si.



11 março 2017

Para escrever bem... do princípio ao fim!


Que tal uma ajuda para escrever bem?
Das atas aos verbetes, passando pelas cartas formais, pelos contos e pelas recensões críticas, este livro apresenta características, qualidades, aspetos a ter em conta, exemplos e propostas de exercício para 20 tipos de texto. Para além disso, oferece ainda diversas sugestões sobre o processo de busca e organização de ideias e sobre a revisão final, bem como apêndices sobre o A.O., as regras de acentuação, o uso da vírgula e os diferentes registos de linguagem.
À venda a partir de dia 15 de março nas livrarias portuguesas.